Por Francisco Xavier Gomes

CACOAL: A EDUCAÇÃO, OS PROJETOS PEDAGÓGICOS E O MUNICIPALISMO…
As escolas públicas, sejam elas municipais ou estaduais, do estado de Rondônia, já há vários anos, enfrentam um problema crucial, sempre que precisam executar determinados projetos pedagógicos que fazem parte da estrutura do calendário escolar de todas as instituições. O problema se assemelha, dadas as proporções, à situação do sistema de saúde pública criada pelo governo de Rondônia, no qual existem os chamados polos, mas não existe a devida estrutura para atender a população. No caso das escolas, a estrutura da SEDUC, e também das secretarias municipais, criou o instituto da realização de projetos pedagógicos, visando proporcionar aos estudantes momentos de interação, pesquisas e conhecimento geográfico e social dos municípios onde vivem e de outras regiões de Rondônia. Entretanto, não há, por parte do poder público, a oferta das condições para que esses projetos sejam executados. Esta situação de constantes transtornos ocorre pelo descaso ou omissão de nossas autoridades e configura uma situação vexatórias para estudantes, professores e dirigentes das escolas…
Ninguém pode negar que os estudantes que vivem em Rondônia, matriculados em escolas municipais ou estaduais, são filhos, netos e bisnetos de pessoas que vivem nesses municípios e que pagam impostos, como todos os brasileiros. Porém, sempre que os professores elaboram projetos que necessitam ser realizados fora das dependências das escolas, os transtornos são visivelmente humilhantes, porque não existe as condições necessárias para a execução desses projetos. Não é possível negar, também, que nosso estado possui inúmeros locais históricos, culturais, sociais, e até mesmo turísticos, que nossos estudantes têm o direito de conhecer, pesquisar, visitar… É o caso do lendário Forte Príncipe da Beira; do Complexo Cultural Madeira Mamoré; do Museu Arqueológico de Presidente Médici; da Casa de Rondon, em Vilhena; o Duelo da Fronteira, em Guajará-Mirim; a Flor do Maracujá, em Porto-Velho; e diversos outros lugares e eventos culturais… Os estudantes têm o direito de conhecer sua história, de conhecer o estado ondem vivem e de conhecer as potencialidades de Rondônia. Isto significa obter, dentro do âmbito escolar, a formação e integração devidamente previstos no Art.205 da Constituição Federal do Brasil e demais normas que tratam da educação e formação da população. A participação em eventos culturais e a visita a lugares históricos do estado fazem parte da formação de todos os estudantes. Mas é um direito flagrantemente negado…
E por que os estudantes não participam de atividades voltadas a conhecer a própria história? Porque não existe a estrutura necessária e todo mundo finge tiflose! Um professor pode, por exemplo, elaborar um projeto para levar seus alunos ao Forte Príncipe da Beira. Aquele local é parte integrante da história de todos os rondonienses e inclusive já foi objeto de questões de concursos diversas vezes. Mas levar estudantes ao Forte Príncipe é uma missão praticamente impossível, na estrutura da educação de Rondônia, porque os níveis de humilhação para conseguir o transporte eliminam todas as possibilidades. Mas a SEDUC adora publicar fotos de projetos pedagógicos que os professores elaboram com muito sacrifício. O problema é que a mesma SEDUC não tem a sensibilidade de oferecer as condições necessárias. E não se trata das superintendências regionais, porque esses órgãos não possuem disponibilidade financeira para resolver esse tipo de problema. A Secretaria de Estado da Educação deveria comprar, para cada superintendência, pelo menos dois ônibus exclusivos para transportar alunos para a execução de projetos pedagógicos. E isso não é coisa de outro mundo, porque é possível planejar esse tipo de aquisição. Professores e alunos são humilhados, todas as vezes que precisam realizar um projeto que necessita sair da escola.
Apenas para citar poucos exemplos, em Cacoal, há diversos locais que podem ser utilizados para atividades fora da escola. O Cristo Redentor, localizado na Linha Rural do município; a Pedrona da Linha 10; o Cacoal Selva Park; o Instituto Federal de Rondônia; o Café Don Bento e diversos outros lugares poderiam ser utilizados para a visitação, palestras e estudos, a partir da elaboração de projetos específicos. Mas isto não acontece, porque não há viabilidade de transporte. Esta situação está relacionada com escolas municipais e estaduais, porque os estudantes não possuem divisão geográfica. Todos vivem no mesmo município! Esse papo de aluno estadual e aluno municipal é argumento dos mais arcaicos. O que deve ser considerado é o fator onde vivem os estudantes; não interessa a escola onde estudam, porque todas as escolas possuem a mesma finalidade. E não vale esse papo de dizer que existem aqueles ônibus amarelos. Aqueles veículos são utilizados para transportar os alunos para as escolas e não há disponibilidade para atender projetos pedagógicos. Quem tiver alguma dúvida, pode tentar, para perceber que não há condições. No caso de Cacoal, a Superintendência Regional de Ensino deveria ter ônibus exclusivos para atuar em projetos pedagógicos. Muitas vezes, os professores não elaboram os projetos, porque sabem que não existe transporte e a vida de humilhação em busca de ônibus não combina com a vida já exaustiva dos professores.
Mas é importante lembrar que a Capital do Café elegeu dois deputados estaduais e que eles possuem direito a emendas parlamentares. Se cada deputado apresentar uma emenda para a compra de um ônibus, para atender projetos pedagógicos, Cacoal terá facilmente dois veículos que podem atender todas as escolas estaduais e municiais, mediante planejamento dos professores. Aí, sim, seria possível cobrar das escolas a elaboração de projetos voltados para conhecer a cultura, história, geografia e sociologia de Rondônia. Os deputados poderiam apresentar as emendas e cobrar da SEDUC que invista na formação dos alunos, porque isso é um direito dos estudantes. A compra de veículos exclusivos para atender projetos escolares certamente seria muito útil para as escolas, para a formação dos alunos e para aprimorar a atuação dos professores. Neste caso, a SEDUC poderia criar uma forma de premiar os melhores projetos executados. Isso é investir na educação e na formação da sociedade rondoniense, além de ser uma forma de mostrar aos alunos a história de Rondônia e a própria história de cada rondoniense, porque, embora a SEDUC ignore, cada estudante tem uma história, que está ligada a todos os pontos turísticos, históricos e culturais desse estado. A outra opção é seguir negando aos estudantes o direito de conhecer a própria história… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista