Nesta semana, em que se comemora os 100 anos do Governador Jorge Teixeira, de saudosa memória, sinto-me na agradável obrigação de escrever um pouco sobre a sua trajetória!
Homenagear essa figura ilustre e baluarte que fez tanto por Rondônia e pelo Brasil é trazer para os dias atuais notícias de seus gloriosos feitos no passado.
E, escrever sobre o Teixeirão, para mim, é muito mais do que uma satisfação, diria que é uma obrigação.
É comum, muito comum mesmo, a omissão de reconhecer e de trazer a tela notícias de quem já passou.
Mas, felizmente vejo que nesta semana várias entidades e/ou pessoas estão realizando palestras e eventos para enaltecerem a figura do homem público, de grande valor, por sinal, que foi o Teixeirão.
Então resolvi também escrever sobre ele, mas, desde já, peço a devida vênia para não tratar só de suas obras, quero debruçar um pouco mais sobre a extraordinária figura humana que foi o Teixeirão.
Quando ele me convidou para ser prefeito de Ji-Paraná, já em nosso primeiro contato que se deu no hotel do INCRA em Ouro Preto, já observei que se tratava de um homem diferente.
Seu jeito espontâneo e brejeiro despertou em mim um oceano de simpatias!
Topei a empreitada que ele me atribuíra porque senti e percebi que os seus ideais coincidiam com os meus e de milhares de rondonienses e que esses ideais iam na direção de transformar o território de Rondônia em estado, tarefa essa que já fazia parte das preocupações do governador Humberto da Silva Guedes que o precedeu.
Trabalhei com os dois, e cada um deles a seu estilo, tinha a vontade de ver mais uma estrela brilhar na bandeira do Brasil.
Como prefeito de Ji-Paraná convivi com o Teixeirão e como coordenador do INCRA convivi com o cel. Guedes.
Sou testemunha do carinho que os dois tinham por nosso povo e do “espírito de missão” que infundiram em todos nós!
O Teixeirão raramente levava em sua companhia a sua esposa Aída para o interior, mas quando levava, quase sempre se hospedavam, quando em Ji-Paraná, em minha modesta casa; tanto ele quanto ela eram pessoas bastante humildes e muito agradáveis; não tinham “frescura” e tudo estava bom!
O Teixeirão era um esportista vibrante e um músico apaixonado; tinha o seu time de basquete composto só de seus auxiliares diretos e sempre que a agenda permitia levava o seu time para confrontar com as equipes das cidades do interior e principalmente nas inaugurações das quadras de esportes que ajudou a construir em escolas estaduais de todos os municípios.
Em Ji-Paraná, jogou nas quadras que construí nas escolas 31 de Março e Aluízio Ferreira, não gostava de perder e dava “muita bronca” em seus companheiros de equipe.
Sempre que vinha para o interior trazia um pequeno caderno contendo mais de 300 músicas, a maioria era de samba, gostava de fazer “troça” de nossos cantores sertanejos, mas acabou por gostar das músicas deles também.
Como eu conhecia de cor todas as linhas de nossos Projetos de Colonização, inclusive vistas de aviões ou de helicópteros, sempre me chamava para sobrevoar o interior com ele de helicóptero, gostava de pedir ao piloto Clóvis que pousasse nos currais e quintais dos colonos e já descia do helicóptero e ia entrando casa adentro até a cozinha onde destampava panelas, tomava café e comia o que tivesse sem nenhuma oposição das donas de casa; muitas vezes os maridos chegavam correndo e suados, às vezes sem camisas, vindos das roças onde estavam trabalhando e encontravam dentro de suas cozinhas o Teixeirão, já senhor da situação.
Eu sempre colocava bolas de futebol dentro do helicóptero e na saída dessas casas ele reunia a molecada e chutava uma bola para cima e dizia “quem pegar é o dono”!
Em decorrência dessas atitudes absolutamente espontâneas, ficou muito conhecido e muito querido da população mais humilde de nosso interior.
Em uma solenidade de inauguração das redes de eletricidade do bairro do quilômetro 4 em Ji-Paraná “bateu” pandeiro acompanhando o ritmo das músicas que estavam sendo executadas pelo conjunto musical que abrilhantava a dita solenidade; quando desci do caminhão/palanque uma senhora disse-me baixinho que queria falar com Teixeirão, perguntei a ela se eu poderia saber o assunto e que talvez eu mesmo pudesse resolver o seu problema, ela disse, quero falar com ele, eu disse, tudo bem, a hora que ele descer vou pedir para ele te atender, e assim que ele desceu do caminhão fiz a apresentação daquela senhora, ele colocou a mão no ombro dela e perguntou o que ela queria, e aí ela disse, não quero nada, apenas dizer ao Senhor que sou do Paraná e nunca falei nem com um vereador, agora ver um governador “bater” pandeiro, eu nunca pensei em ver.
Ele era assim, gostava do povo simples e era exímio colocador de apelidos nas pessoas e todo mundo levava tudo na “esportiva”.
No meu discurso de posse na prefeitura, enfatizei ao final, dizendo que o nosso principal problema era a precariedade das estradas rurais e terminei com essa afirmação: “estrada, estrada, estrada” e ele terminou o dele dizendo: “trabalho, trabalho, trabalho”!
Poderia aqui escrever muito mais sobre o lado humano do Teixeirão, lado este que muitas vezes não é percebido ou conhecido e muito menos divulgado pelos meios de comunicação.
Mas preciso falar também do amor e do carinho que ele tinha pelo povo sofrido, quer sejam ribeirinhos, seringueiros, colonos, garimpeiros e trabalhadores de uma maneira geral; e do respeito e do prestígio de que desfrutava junto ao Presidente Figueiredo e Ministro Andreazza, principalmente.
Sua missão de transformar o Território em Estado foi realizada com sucesso e hoje Rondônia é um extraordinário e invejável estado que desponta no cenário nacional como um dos mais viáveis e progressistas da Amazônia. Foi uma conquista de todos e uma obra do Teixeirão, esse mérito ninguém poderá negá-lo; e homenageá-lo é questão de reconhecimento e justiça!
Ji-Paraná, 03 de junho de 2021.
Assis Canuto