Mesmo entre os que controlam finanças, apenas um terço planeja o mês com antecedência. Consumidor tende a anotar gastos fixos, mas deixa gastos extras em segundo plano; 39% passaram a controlar mais as finanças após ‘nome sujo’
Capacidade de planejamento, autocontrole e disciplina são palavras
essenciais quando o assunto é manter a situação financeira em
equilíbrio. O problema é que são poucos os brasileiros que admitem ter
disposição para organizar suas finanças com regularidade. Um
levantamento feito em todas as capitais pela Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC
Brasil) revela que quase metade (48%) dos consumidores brasileiros não
controla o seu orçamento, seja porque confiam apenas na memória para
anotar despesas (25%), não fazem nenhum registro dos ganhos e gastos
(20%) ou delegam a função para terceiros (2%).
Outro dado preocupante do estudo é que mesmo entre aqueles que realizam
um controle efetivo de suas finanças (52%), a frequência com que anotam e
analisam suas despesas não é a adequada. Em cada dez pessoas que adotam
um método apropriado de controle,somente um terço (33%) planeja o mês
com antecedência, registrando a expectativa de receitas e despesas do
mês seguinte. A maioria (39%) vai anotando os gastos pessoais conforme
eles ocorrem e outros 27% só anotam os gastos após o fechamento do mês.
Entre os que não dão importância ao controle do orçamento, a principal
justificativa é não ver necessidade na tarefa, pois confiam nas contas
de cabeça (20%). Outros 16% reconhecem não ter disciplina e 16% alegam
não ter um rendimento fixo ou nem sabem exatamente o quanto ganham por
mês.
Na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, pensar
nos gastos com antecedência ajuda o consumidor a não ser surpreendido no
fim do mês pela falta de recursos. “O consumidor que conhece sua
relação de receitas e despesas está menos propenso a se endividar com
empréstimos ou a recorrer ao limite do cheque especial para cobrir
rombos no orçamento. Além disso, ele está mais preparado tanto para
traçar planos de longo prazo, como para agir em uma situação de
imprevisto, como um gasto inesperado de alto valor ou a perda do
emprego”, afirma a economista.
Maioria usa caderno de anotações na hora de planejar finanças; Gastos
não essenciais são os mais deixados de lado na hora do planejamento
A pesquisa também mostra que o controle dos gastos extras e não
essenciais acaba ficando em segundo plano entre os consumidores que
fazem algum controle do orçamento. Os itens que os entrevistados menos
anotam são o dinheiro que possuem guardado em investimentos, em casa ou
na conta corrente (60%) e os gastos não essenciais, como lazer,
transporte, salão de beleza, compras de roupas e alimentação fora de
casa, que são controlados por apenas 57% dos entrevistados.
Gastos essenciais como contas da casa, despesas com mantimentos, aluguel
e condomínio são anotados por 92% dos entrevistados que têm algum
planejamento. As prestações de compras feitas no cartão, cheque ou
crediário que vencem no mês seguinte recebem a atenção de 79%. Já 76%
anotam os rendimentos, como salários, aposentadorias e pensões.
“Subestimar o impacto de pequenos gastos no orçamento é uma atitude
imprudente. Os chamados ‘gastos invisíveis’, que são aquelas pequenas
despesas supérfluas que passam quase despercebidas no dia a dia, podem
comprometer as finanças quando somadas no fim do mês. Por isso que é
perigoso anotar os gastos à medida que vão sendo feitos, pois isso não
garante um controle eficiente. O ideal é separar antes de tudo uma
quantia para gastos fixos mensais e somente com o restante ir alocando
conforme a necessidade ou desejo do consumidor, sem esquecer de guardar
uma quantia para uma reserva de emergência”, orienta a economista
Marcela Kawauti.
A pesquisa mostra que a dificuldade para manter as finanças em ordem não
é uma exclusividade dos que não controlam o orçamento. Considerando os
que adotam algum método de controle, 61% relatam dificuldades,
principalmente, por terem uma renda variável (21%), falta de disciplina
para anotar gastos com regularidade (20%) e falta de tempo (7%). Já 38%
afirmam desempenhar a tarefa sem dificuldades.
De modo geral, o velho caderno de anotações desponta como a ferramenta
mais utilizada pelos entrevistados para registrar sua movimentação
financeira, usada por 36% dos brasileiros. Já a planilha no computador é
o método utilizado por 9% das pessoas ouvidas, enquanto 7% registram as
receitas e despesas em aplicativos de smartphones. “Se o método for
organizado, não importa qual seja a ferramenta. O importante é nunca
deixar de analisar as informações anotadas. Algumas pessoas têm
facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras ainda preferem um
pedaço de papel”, explica a economista do SPC Brasil.
48% dos brasileiros ficaram com ‘nome sujo’ em algum momento nos últimos 12 meses; 39% ficaram mais controlados após negativação
A falta de controle das finanças se torna ainda mais perigosa em um
cenário de dificuldades econômicas do país. De acordo com a pesquisa,
78% dos brasileiros até conseguem terminar o mês com todas as contas
quitadas, mas em 33% dos casos acaba não havendo sobras no orçamento. Já
22% dos entrevistados sofrem para administrar as finanças e deixam com
frequência de pagar seus compromissos. Resultado é que nos últimos 12
meses, 48% dos consumidores brasileiros passaram pela situação de estar
com o ‘nome sujo’.
De acordo com a pesquisa, a experiência da negativação serviu de
aprendizado para parte considerável dos consumidores: 39% disseram ter
passado a controlar mais os gastosapós a situação e 34% refletem mais
antes de realizar compras. Outros 21% deixaram de emprestar nomes a
terceiros e 18% evitam compras no cartão de crédito.
“A negativação do CPF é uma experiência traumática porque impõe uma
série de restrições ao consumo, além do sentimento de vergonha que isso
pode gerar em algumas pessoas. Infelizmente, alguns consumidores só
passam a exercer um controle e planejamento maior sobre a sua vida
financeira após vivenciarem a experiência negativa de ficar
inadimplente”, afirma a economista Marcela Kawauti.
Metodologia
A pesquisa foi realizada com 813 consumidores das 27 capitais, pessoas
acima de 18 anos, todas as classes sociais e ambos os gêneros. A margem
de erro é de 3,5 pontos percentuais para um intervalo de confiança de
95%. Baixe a íntegra da pesquisa
emhttps://www.spcbrasil.org.br/pesquisas
SPC Brasil – Há 60 anos no mercado, o SPC Brasil possui um dos mais
completos bancos de dados da América Latina, com informações de crédito
de pessoas físicas e jurídicas. É a plataforma de inovação do Sistema
CNDL para apoiar empresas em conhecimento e inteligência para crédito,
identidade digital e soluções de negócios. Oferece serviços que geram
benefícios compartilhados para sociedade, ao auxiliar na tomada de
decisão e fomentar o acesso ao crédito. É também referência em
pesquisas, análises e indicadores que mapeiam o comportamento do
mercado, de consumidores e empresários brasileiros, contribuindo para o
desenvolvimento da economia do país.
CNDL – Criada em 1960, a CNDL é formada por Federações de Câmaras de
Dirigentes Lojistas nos estados (FCDLs), Câmaras de Dirigentes Lojistas
nos municípios (CDLs), SPC Brasil e CDL Jovem, entidades que, em
conjunto, compõem o Sistema CNDL. É a principal rede representativa do
varejo no país e tem como missão a defesa e o fortalecimento da livre
iniciativa. Atua institucionalmente em nome de 500 mil empresas, que
juntas representam mais de 5% do PIB brasileiro, geram 4,6 milhões de
empregos e movimentam R$ 340 bilhões por ano.
Fonte: CNDL/SPC BRASIL