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12 de dezembro de 2024 – 13:00

Coluna do Xavier – CACOAL:  A CULTURA, OS ADEREÇOS E AS ALEGORIAS…

Por FRANCISCO GOMES XAVIER

 

CACOAL:  A CULTURA, OS ADEREÇOS E AS ALEGORIAS…

A população brasileira, e Rondônia não é diferente, sem dúvida, já ouviu falar, muitas vezes, em plano de governo, documento que faz parte da lista de itens que devem ser obrigatoriamente apresentados à Justiça Eleitoral, por todos os candidatos que disputam eleições para os cargos do poder executivo. A exigência legal faz parte do folclore político e dos adereços e alegorias criados pelo legislador federal, no que diz respeito às normas eleitorais, com a única finalidade de engrupir o eleitor mais desatento e promover o ufanismo que toma conta de todas as campanhas. O plano de governo, todavia, nem seria necessário, já que tal exigência não vale para quem disputa os cargos do legislativo, embora não impeça a disseminação de enésimos delírios. Isto porque muitos candidatos a vereadores, deputados e senadores adoram fazer promessas que somente um indivíduo com altíssimo grau de obtusidade leva a sério. O fato é que, uma análise mais detida, sobre diversos planos de governo já apresentados por candidatos que disputaram eleições majoritárias em Cacoal, revela que todos eles trazem a cultura como um dos itens. No entanto, tudo não passa de alegorias e adereços…

Os planos de governo, claro, jamais deixam de fora o item cultura, embora a legislação eleitoral não determine quais itens devem constar no documento. Mas os candidatos fazem absoluta questão de incluir a cultura, e até transformam o tema em pauta de debates. Isto tem uma explicação lógica: a cultura é um elemento que a humanidade preserva desde os primórdios. Assim, é inaceitável que um candidato a prefeito, governador ou presidente entregue à Justiça Eleitoral um plano de governo no qual a cultura nãos esteja “privilegiada”. O problema, o grande problema, é que tal assunto é colocado para baixo do tapete dos eleitos, logo após a diplomação. É por isso que não se vê nenhuma ação voltada para a cultura, durante as gestões de muitos municípios, porque isto não tem nenhuma importância para esses gestores. E aqui vamos especificar: a cultura registrada nos planos de governo é sempre a cultura local, como manda o figurino eleitoral. Nenhum candidato faz campanha dizendo que vai contratar, caso seja eleito, artistas conhecidos nacionalmente, apenas para fazer propaganda da administração, gastar os recursos que poderiam ser utilizados para incentivar a cultura local e iludir aqueles que ignoram completamente a própria cultura, a cultura local e o talento dos munícipes…

A cultura local pode ser estimulada com a realização de saraus, nos quais sejam convidados os talentos locais; com a realização de concurso de poesia; com a realização de concursos de redação entre estudantes; com a organização de festivais de música, teatro e dança. Isto tudo com a participação exclusiva de talentos locais. O custo para se fazer isso seria inúmeras vezes mais baixo do que contratar artistas nacionais, já consagrados, milionários, e que não têm nenhum interesse pelo município. Nesses shows com figuras nacionais, os artistas locais não encontram espaço sequer para fazer uma apresentação antes do espetáculo principal, por um cachê centenas de vezes mais baixo. E existem os recursos para isso! Mas as decisões são sempre no sentido de desvalorizar os talentos locais e ignorar que eles fazem parte da população, possuem talento e poderiam ser contemplados com políticas públicas municipais, voltadas para incentivar e promover a cultura local. E por que, então, não se faz isso? Por absoluta falta de vontade e por absoluta falta de respeito pelos talentos locais. No caso de Cacoal, quando foi que a municipalidade desenvolveu alguma ação sobre isso? Ninguém, vai lembrar, porque não se faz isso em Cacoal, embora as promessas sejam eternas, em todas as campanhas municipais, em todos os planos de governo. A negligência com a cultura local é gritante. E repugnante…

E vale lembrar que cultura também se faz com a preservação da memória dos pioneiros. Em Cacoal, fala-se muito sobre pioneiros e pioneirismo, mas a realidade é muito cruel. Não existe nada que possa lembrar os pioneiros! O município poderia, muito bem, construir um espaço para apresentar a história dos pioneiros da cidade. Uma espécie de pequeno museu, no qual fossem organizados os registros da história dos pioneiros, com imagens, roupas, instrumentos de trabalho, objetos de estimação… Um local como este serviria para as futuras gerações conhecerem e identificarem seus pioneiros, verem neste local uma razão para se orgulhar da história dos patriarcas a matriarcas das famílias da cidade. Tudo isto é cultura e pode ser feito com a participação da comunidade e com os recursos destinados à cultura, que estão no orçamento do município. Mas todo mundo faz questão de ignorar! E muitas pessoas dirão que este arrazoado não faz sentido, que não há necessidade, que isto é insignificante. Claro que não é!!! Quantas famílias gostariam de ter um espaço desse em Cacoal, para depositar as lembranças de seus pioneiros já falecidos? O município de Cacoal não existiria, por exemplo, sem pessoas como Anísio Serrão. Mas, se alguém conseguir uma foto dele, e mostrar para um cacoalense de 20, 30 ou 40 anos de idade (ou até mais), certamente ele não será reconhecido, porque sua história ficou resumida a nome de rua…

E onde estão os vereadores, que não discutem esse tipo de ideia? Por que não discutem? Por que não houve nenhum projeto elaborado e aprovado pela Câmara Municipal sobre o tema? Porque a negligência não permite, porque cultura local não tem importância para a edilidade e porque a Secretaria Municipal de Cultura, assim como os planos de governo, é apenas uma alegoria municipal e funciona como escritório para contratar os medalhões do sudeste. É uma pena que tenhamos esta realidade e que a cultura de nosso município, mais uma vez, durante essa campanha eleitoral, será apenas mais um adereço, mais uma alegoria nos planos de governos, elaborados com o claro objetivo de cumprir a mera liturgia eleitoral… Tenho dito!!!

 

FRANCISCO XAVIER GOMES

Professor da Rede Estadual e Jornalista

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