Os danos causados pela seca severa que assola diferentes partes do Brasil têm causado prejuízos a quem depende de transportes fluviais na região Norte. Em Rondônia, o Madeira, um dos principais rios do país, baixou a 1,98 metro nesta quinta-feira (22). A marca é a menor para um mês de agosto em 57 anos, desde que os níveis do curso d’água começaram a ser monitorados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Há dois meses, não há chuva significativa na capital Porto Velho, trecho em que imensos bancos de areia se formaram. Dados do SGB previam que o nível médio para o período variasse em torno de 4 metros. Com a estiagem prolongada, o rio tem ficado 2 metros abaixo do esperado, o que resulta em acúmulo de sedimentos no leito do Madeira e bloqueia o escoamento de água.

Painel Político is a reader-supported publication. To receive new posts and support my work, consider becoming a free or paid subscriber.

— É uma cota muito baixa para esse momento do ano. Se analisarmos todos os dias 22 de agosto de anos anteriores, desde 1967 até hoje, o nível do rio nunca esteve em 1,98 metro ao longo desse intervalo. É a marca mais baixa para essa época do ano — detalha o engenheiro hidrológico do SGB, Marcus Suassuna.

A conjuntura atual, explica Marcus, é motivada pelos baixos índices de precipitações somado à “herança da última seca”, quando o rio chegou a registrar 1,10 metro, em outubro de 2023.

— No começo de 2024, o rio já estava com o nível muito baixo. Houve um grande atraso no início da estação chuvosa (que, normalmente, vai de outubro a março), em 2023, e o período de chuva todo, ao longo deste ano, foi muito fraco.

Diante disso, na melhor das hipóteses, o quadro de seca se mantém até o final de setembro.

— Não há o que fazer, é preciso aguardar o início da estação chuvosa. As previsões climatológicas, de diferentes agências, indicam que ela deve começar no final de setembro ou, ainda, sofrer atraso. O cenário é desfavorável — alerta o engenheiro.

Com o leito rochoso à mostra, o maior impacto é sentindo na navegação. De Porto Velho à foz do rio Amazonas são aproximadamente 1.345 km de trechos navegáveis. Na capital do estado, além de operações com volumes de cargas reduzidos para garantir a segurança, o tráfego noturno está proibido.

— Esse é o principal meio de chegada e saída de vários produtos na cidade. Chega bastante combustível, e saem muitas commodities agrícolas. Com o Rio Madeira nessas condições, o fluxo fica bem prejudicado e, geralmente, caro, porque as embarcações têm que ir “aliviadas” e fazer mais viagens para transportar os produtos — explica o especialista.

O resultado dos atrasos na logística dos transportes aquaviários reflete também no bolso dos moradores do entorno.

— A população local sente o aumento do preço do óleo e da gasolina. É uma consequência do valor do frete, que também subiu. Os combustíveis já encareceram esse ano, desde junho e julho — pondera Suassuna.

Outro risco severo, aponta o engenheiro, está na geração de energia elétrica.

— Em Porto Velho, há a Usina Hidrelétrica de Jirau e a Usina de Santo Antônio, que são muito grandes. No ano passado, por exemplo, a de Santo Antônio parou de gerar energia durante o pico da seca — relembra.

Diante da mínima histórica, a Prefeitura de Porto Velho informou que, frente ao “período crítico de seca extrema”, a Defesa Civil do município tem recomendado somente “o uso essencial de água” e fez um apelo aos moradores: “evitem o desperdício”.

Fonte: Painel Político