A eleição para prefeito em Porto-Velho deixou algumas importantes lições para todas as pessoas que vivem no mundo político ou acompanham os fatos políticos em nosso estado. É possível que já tenha ocorrido algo semelhante, mas certamente não com as mesmas proporções. No primeiro turno, a ex-deputada Mariana Carvalho imaginava que o fato de juntar quase 15 partidos em seu palanque seria suficiente para entrar no clima de “já ganhou”. A herdeira da FIMCA foi atropelada nas urnas pelo prefeito eleito, Leo Moraes, e a mídia nacional destacou o episódio como a virada mais impactante ocorrida nas capitais, durante o segundo turno. Vários fatores podem ser considerados para avaliar a derrota histórica do grupo de Hildon Chaves, Marcos Rogério, Marcos Rocha e Célio Lopes. Isso mesmo! O terceiro colocado na campanha do primeiro turno resolveu aderir ao “callapo” de Mariana e seus cabos eleitorais de luxo. Ninguém sabe ao certo onde este callapo vai parar, mas, como o Madeira está com pouca água, o caminho pode ser bem traumático…
O grupo político liderado por Hildon Chaves talvez seja o maior já construído numa disputa eleitoral na capital de Rondônia. Além do prefeito, principal cabo eleitoral que Mariana tinha em Porto-Velho, estavam no palanque: Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro, Damares Goiabeira Alves, Marcos Rogério, Marcos Rocha, Jaime Bagatolli, Aparício Carvalho, 6 deputados federais, mais de 20 deputados estaduais, todos os vereadores eleitos na capital, dezenas de prefeitos e vereadores eleitos no interior e dezenas de candidatos que disputaram o primeiro turno, mas não venceram, como Célio Lopes (PDT), o terceiro colocado em Porto-Velho. Então, Mariana Carvalho contou com a máquina pública municipal, a máquina pública estadual e muitos empresários que tinham como certa a vitória. Não foi por acaso que a deputada Ieda Chaves, esposa do prefeito de Porto-Velho, anunciou a vitória do grupo, já no primeiro turno, e acabou multada por suas declarações. Mariana Carvalho também foi multada na mesma ação. Elas foram multadas em 10 mil reais, em razão das declarações que faziam alusão à vitória da pupila de Hildon Chaves. Como o prefeito de Porto-Velho é bem avaliado por uma parte significativa da população, é possível que ele ainda tenha a possibilidade de manter sua popularidade, excluindo-se o segmento dos servidores públicos municipais. Quanto à Mariana, como é muito nova, terá diversas outras oportunidades, mas é pouco provável que ela consiga juntar um grupo tão grande em outra eleição. Pouquíssimo provável…
Em muitas ocasiões, diversos analistas costumam dizer que determinada candidatura pode não ter conseguido a vitória, por causa da escassez de recursos. Todavia, este argumento não serve para justificar a derrota sofrida pela candidata de HIldon e companhia, porque os registros do Tribunal Regional Eleitoral mostram que Mariana Carvalho recebeu R$ 6.972.000,00 em recursos para a campanha. O candidato do PDT, Célio Lopes, recebeu R$ 3.668.205,35. A juíza Euma Tourinho recebeu R$ 2.790.062,45. O prefeito eleito, Leo Moraes, recebeu R$ 2.018.500,00. Não é necessário citar os demais candidatos, porque eles tiveram gastos muito menores. Mas, entre os nomes citados acima, o candidato que venceu a eleição teve menos recursos do que os demais, fato suficiente para provar que o grupão de Hildon Chaves não pode reclamar de falta de recursos. Além disso, tanto o governo municipal, quanto o estadual colocaram muitos assessores na campanha. Todos pedindo votos para Mariana; enquanto Leo Moraes tinha o eleitor como principal aliado. Isto é tudo!!!! E um detalhe curioso é que o candidato Célio Lopes, pelo menos na teoria, não convenceu nenhum de seus eleitores a votar em Mariana. Ele teve quase 30 mil votos no primeiro turno. Importante registrar que Mariana Carvalho teve 111 mil votos no primeiro turno; e 105 mil no segundo turno. Assim, além dos eleitores de Célio, mais de 6 mil pessoas que já tinham votado em Mariana no primeiro turno mudaram de opinião. Isso é sintomático…
Desta maneira, fica claro que o eleitor de Célio Lopes não gostou de sua decisão. Isto pode criar um problema para ele, em eleições futuras. E nem precisa dizer, com exaustão, que o principal líder político da capital não é Hildon; não é Marcos Rocha e muito menos Marcos Rogério, porque todos eles foram atropelados por Leo Moraes. Certamente ainda nem tiveram tempo para anotar a placa. Algumas pessoas chegaram a afirmar que as chuvas torrenciais que caíram em Porto – Velho, na véspera da eleição, representam um fator que determinou a derrota de Mariana. Claro que não! O grande problema foi o salto alto, a arrogância, a autofagia, a incoerência e outros aspectos que Hildon não percebeu no seu grupo, mas que o eleitor fez a leitura com muita clareza. Quando o “callapo” de Mariana parar, em 2026, será possível avaliar quem serão os sobreviventes da ambição colossal que se abateu sobre os caciques do grupão de Hildon, mas, a essa altura, os vereadores que Mariana elegeu já se movimentam para buscar abrigo na gestão de Leo Moraes. É pura ilusão imaginar que eles vão aceitar carona na “callapo” … Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista