Aventuras de um Catarina na Terra dos Faraós
Cleópatra, Felinos, e a Dádiva do Nilo

Por Geraldo Gabliel

GUILHERMO
366X+F6Q RSAC,
Al Fagalah, Al Azbakeya,
Governorate 4320302, Egypt
CAIRO – EGYPT
Quando se fala em Egito, logo Geh Latinus se lembra do seu Mestre Rubén Aguilar nas aulas de Arqueologia Histórica do Oriente Médio no UNASP. Boliviano, vivendo já há um bom tempo no Brasil, Aguilar ainda mantinha aquele sotaque bem latino-quechua quando citava os nomes dos reis e governantes do Antigo Egito: Amenhotep III, Hatshepsut, Tutmés, Akhenaton, Tutancâmon- Ramsés III – e dizia, com sarcasmo santo – “Ahy! lindos nomes para vocês batizarem seus filhos, sobrinhos…” – e ríamos. A-men-ho-tep; Hat-shep-sut. E a gente completava: “Cleópatra!” (a última Faraó).
E, é de lá que o meu sobrinho Guilhermo de Cleópatra nos conta suas impressões – Egito moderno, com recordações antigas:
– Tio Geh, meu amigo, se há um fio condutor que costura toda uma tapeçaria egípcia, ele se chama Rio Nilo. É impossível caminhar por aqui sem sentir que suas águas contam histórias. Heródoto já dizia há 2.500 anos: “O Egito é uma dádiva do Nilo”. E eu, Guilherno, confirmo com os pés na areia e o coração em êxtase. Em meio a um dos lugares mais áridos do planeta, esse rio é vida, é sustento, é poesia líquida. As cheias trazem sedimentos férteis, os peixes pulam como bênçãos, e o pôr do sol sobre ele… ah, Tio Geh, é de fazer qualquer catarinense chorar de emoção…
Isso me lembra Moisés, filho de Joquebede, que foi, na verdade, a dádiva do Deus de Abraão à filha do Faraó Ramsés III, através do Nilo. O menino Moisés, seria criado no palácio do Rei, para ser, num futuro breve, ao povo Hebreu, o Libertador.
– E por falar em emoção, os gatos egípcios são um capítulo à parte. Eles não apenas desfilam pelas ruas com altivez, mas carregam no olhar a memória de terem sido divindades. No Antigo Egito, quem matasse um gato era condenado à morte. Eles usavam joias, comiam iguarias e eram tratados como seres mágicos. Hoje, ganham selfies e carinho. E merecem! São os verdadeiros guardiões da aura mística que paira por aqui.
Cleópatra, então, é quase uma entidade. A mulher mais poderosa do Antigo Egito, fluente em nove idiomas, estrategista e sedutora. Sua tumba ainda é um mistério arqueológico, e eu, entre um passeio e outro, sigo sonhando em tropeçar nela por acaso. Vai que o destino me escolhe como mensageiro da História?
Hoje: o Cairo, as alianças e o mercado que fala alto
O Cairo é um caos encantador. Ruas agitadas, buzinas que parecem sinfonias e mesquitas que desafiam a gravidade com sua beleza. A de Muhammad Ali, por exemplo, com seus 80 metros de altura e mármore reluzente, me fez esquecer do calor por alguns instantes. No centro histórico, igrejas, sinagogas e bazares se misturam como se o tempo tivesse decidido morar ali. E olha só: o Cairo é a maior cidade de toda a África e do Oriente Médio, com cerca de 20 milhões de habitantes. É gente que não acaba mais!
– Aqui, o domingo é dia útil. O fim de semana começa na sexta, que é o dia sagrado para os muçulmanos. E não pense que dá pra tomar uma cervejinha na praça – bebidas alcoólicas são proibidas em locais públicos. Só em estabelecimentos autorizados. Beijo na rua? Também não pode. Pode dar cadeia. Mas entre amigos, rola aquele cumprimento com três beijos na bochecha. Tem brasileiro que se atrapalha na contagem e quase manda logo quatro beijos…
As leis de trânsito? São mais sugestões do que regras. O uso do cinto é quase decorativo, e atravessar a rua é um exercício de fé. Já no metrô, há vagões exclusivos para mulheres – e meninos pequenos. Segurança é levada a sério: raios-x em parques, shoppings e até em alguns cafés.
- E foi ali que descobri que a tradição de usar alianças no dedo anelar vem dos egípcios. Eles acreditavam que esse dedo tinha uma veia ligada diretamente ao coração. Achei poético. Já o mercado… Geh, o mercado é uma aula de negociação. Os vendedores são insistentes, mas também artistas da barganha. Você olha, eles oferecem, você hesita, o preço cai. Saí de lá com um tapete, um turbante e uma estatueta de Hórus – o deus falcão, símbolo de visão poderosa e proteção.
Falando em Hórus, o templo de Edfu é uma joia preservada. Localizado acima do vale para escapar das cheias do Nilo, ele revela como os egípcios misturavam natureza e espiritualidade. A imagem do falcão, com olhos que tudo veem, ainda é usada como amuleto de sorte e saúde. E eu, claro, comprei um para garantir proteção na travessia do deserto.
E as pirâmides…
Chegar em Gizé é como entrar num livro de História em tamanho real. As pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos são monumentos que desafiam a lógica e abraçam o mistério. A Grande Pirâmide, única remanescente das 7 Maravilhas do Mundo Antigo, nos fez sentir pequenos e privilegiados. E a esfinge, com corpo de leão e cabeça humana, parece guardar segredos que nem o tempo ousou revelar. Curioso: o Sudão tem mais pirâmides que o Egito. Mas nenhuma com o mesmo impacto visual e simbólico.
- Depois, fui para Aswan, onde o Nilo se torna cristalino e a vegetação dança com o vento. É um verdadeiro oásis. A cidade, próxima à Núbia, revela uma conexão ancestral entre dois povos que se misturaram, disputaram e se respeitaram. O museu de Aswan é um tesouro com mais de três mil peças raras. E o pôr do sol sobre o rio… Geh, é como se o céu beijasse a terra em agradecimento.
Por fim, Luxor. Ah, Luxor! O Vale dos Reis é uma montanha de memórias. Tumbas decoradas com cenas mitológicas, inscrições que desafiam o tempo e a tumba de Tutancâmon, que me fez sentir como um arqueólogo em missão divina. É ali que o Antigo Egito se revela em sua plenitude, com templos majestosos e rituais que ainda ecoam nas paredes.
Curiosidade final: os egípcios fazem apenas duas refeições por dia – uma ao acordar e outra no fim da tarde. E a poligamia? Permitida. Um homem pode ter até três esposas, especialmente se não tiver filhos. A cultura é complexa, cheia de camadas, e cada uma delas me ensinou algo novo.
Conhecer o Egito é visitar a nossa história. É entender que, mesmo a milhares de quilômetros de casa, há algo que nos conecta: a busca por sentido, beleza e eternidade. E tudo isso, Tio Geh, graças ao Nilo – essa dádiva que continua a dar ao Crescente Fértil.
Com o coração inundado e a alma em festa,
Cacoal, RO. Em 27 de setembro de 2025.
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