A metáfora do corredor humanitário esconde o empobrecimento relegado aos habitantes rurais da Amazonia.
- Por Mara Paraguassu
Sem resposta concreta sobre o tímido combate do governo ao recorde de fumaça e queimada no Amazonas, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) vira meme nas redes sociais. O TikTok inflou com a comparação que ela fez da estiagem e focos de incêndio com a guerra.
Uma guerra que inacreditavelmente vive na cabeça dela contra a população da Amazonia. Sim, é isso mesmo. Do contrário, não haveria motivação na confusa declaração de Marina para se abrir corredor humanitário na região mais rica do planeta.
Avalista do Fundo Amazônia e gestora por tanto tempo de políticas públicas na floresta, a ministra tem sido incapaz de articular uma política em escala para, com um quinhão generoso do fundo, levar assistência técnica ao pequeno produtor rural, ao ribeirinho e ao extrativista amazônida.
O fundo tem dinheiro também para isso. Somente com alternativas para produzir, o fogo deixará de ser aliado do povo amazônida que teima em produzir em condições adversas, com ausência de escola, saúde, saneamento, estrada.
Vigiaríamos e responderíamos aos estragos do El Nino, e aos que insistem em saquear os recursos da região.
A comparação das mudanças climáticas com a guerra ocorreu no evento TedxAmazônia, em Manaus. A ministra virou piada ao ser perguntada sobre que medidas avalia serem necessárias para a adaptação de se “viver na nova realidade” provocada pelo aquecimento global.
Marina Silva sugeriu corredores humanitários para que “as crianças, os jovens e as pessoas possam ter um futuro.” Que estranha associação aos corredores exigidos pela controversa ONU em Gaza.
A metáfora não é, porém, gratuita. Ela não está “chapada,” como algumas publicações do meme divulgaram.
Na prática, embora tenha parecido mais uma pregação mística a entrevista da ministra, o Ministério de Marina exorta a expulsão das crianças e pessoas da Amazônia.
E elas estão, pelos raros esforços do governo central em conjunto com os governos estaduais da Amazonia em fixar infraestrutura social e apenas conceder política ambiental repressora, perdendo a esperança, indo embora mesmo.
Inclusive os que estão instalados legalmente são empurrados para nova área sabe Deus onde quando uma reserva é ampliada, o que tem acontecido sobremaneira no Pará e no Amazonas. Sem a mínima consideração por brasileiros que nelas viviam e produziam.
Onde estão o generoso provimento e os corredores humanitários? Um desses corredores a ministra até hoje se nega a apoiar.
Chegou a dizer que a BR-319, útil ao Amazonas e Rondônia mais do que nunca nessa estiagem, quando os rios, estradas do Amazonas, secaram, “não liga lé com cré.” Só pode ser o Ministério do Meio Ambiente que deixou a rodovia fora do atual PAC.
A metáfora do corredor humanitário esconde o empobrecimento relegado aos habitantes rurais da Amazonia.
A mudança climática usada como justificativa para buscar um futuro sem aquecimento global aplaca a incompetência da burocrata que está no cargo por expressa chancela internacional, acatada pelo governo brasileiro.
Com o único intuito de paralisar moradores rurais de vastas porções da Amazonia. É interesse da agenda internacional, é a soberania compartilhada atingida por meio do lucrativo serviço prestado pelas organizações não-governamentais dentro e fora do país.
Veio à mente as imagens que assisti durante boa parte do dia, ontem, de moradores da área rural da Amazonia escorraçados pela polícia como se fossem criminosos do quilate de um Sérgio Cabral ou Gedel Vieira de Lima.
Gente com a roupa rota, vivendo em tapiri, sem apoio à subsistência diária, à emancipação por meio da educação, vivendo com 30 reais ao dia para retirar látex das seringueiras.
É um aparato gigante, repressor, que se aproxima a qualquer momento das humildes residências e com todo o peso da lei bota pra quebrar junto com gente do Ibama, ICMBio, Polícia Federal. A CPI das ONGs exibe à farta ações desproporcionais e abusivas.
Denúncia foi formulada ao Ministério Público Federal pelos senadores.
Não tem nessas operações uma frase “olhem, o caminho é esse, a alternativa para não desmatar é fazer assim, temos recursos para essa política, você vai ter escola e saúde a partir de agora.”
O caminho único é “não pode.” O Estado opressor paralisa a esperança e leva medo às comunidades distantes e carentes da Amazonia, muitas instaladas no pedaço de terra bem antes da definição de uma nova unidade de conservação ou terra indígena.
Não pode ter escola. O senador Márcio Bittar, que esteve na Reserva Extrativista Chico Mendes, em diligência, relatou ontem o pedido feito há tempos pelos moradores de uma licença ao ICMBio para construir uma escola. Nenhuma resposta. Vazio.
A responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente é gigante para que a Amazonia tenha o pior índice humano do país, a maior taxa de mortalidade infantil do Brasil.
Não há futuro quando se paralisa iniciativas humanas que digam respeito ao maior dos direitos humanos que é a vida, ao direito de prosperar e ter bem-estar, quando corredores da hipocrisia a nada levam a não ser mais desalento e pobreza.