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12 de dezembro de 2024 – 08:55

COISAS DO FUTURO

Luiz Albuquerque
E-mail [email protected]

Numa tarde de novembro de 2097 chega uma mensagem me informando para ir ao bloco número 8 do Departamento de Natividade buscar o filho que eu havia encomendado há mais de três anos. Ativei em mim a memória “filho”. A imagem que vi representava o que havia idealizado ao fazer o pedido. Finalmente, teria o meu!

Tinha sido difícil aceitar ter um filho, mas as vantagens oferecidas eram muitas: tinham as bonificações financeiras, a gratuidade em eventos, descontos em alimentos e preferência na compra de diversos tipos de materiais de consumo, além de outras de menor importância. Estes benefícios, oferecidos em grandes campanhas publicitárias do governo, vem motivando a população a ter um filho, já que, por décadas, em busca da diminuição das doenças e dos processos degenerativos de corpos, a geração de filhos foi desestimulado.

Como consequência, a população duminuiu drasticamente, levando nossos governantes à conclusão que, ou a população parava de diminuir, ou seria extinta.

Desde quando as relações inter-sexo foram extintas, o mundo viu reduzir as doenças, a fome, os conflitos, a marginalidade e a mão-de-obra sem especialização. Enquanto isso a população diminuia.

Aos poucos, o velho costume de gerar filho pela conjunção carnal foi sendo abandonado, substituído pela produção em laboratórios, onde qualquer pessoa pode escolher o filho ou filha que idealizava.

Foi longo o período durante o qual os nascimentos de crianças geradas pela combinação homem/mulher foi diminuindo, até deixarem de acontecer. Ao mesmo tempo, aumentou a quantidade de seres desenvolvidos “in vitro”, produzidos a partir de cultivações realizadas em laboratórios de criação de seres humanos que, utilizando células-tronco, geram pessoas com padrões similares às naturais, mas com catacteristicas e personalidade individualizadas.

O problema, hoje, é que, com tantos incentivos e vantagens para um homem ou uma mulher ter um filho, a fila de espera é enorme, já que a produção está longe de satisfazer a demanda, e este fato está causando um novo problema: a queda da qualidade desses novos seres. É que, com a alta procura, os laboratórios aos poucos vão reduzindo os cuidados nos processos de preparação das crias e, em consequência, produzindo seres menos capacitados. O resultado é o risco de vir alguém com total incompatibilidade com o que fora encomendado, e isto já está acontecendo. E se o defeito for descoberto depois dos seis anos de garantia não pode mais ser devolvido nem trocado por outro. Os laboratórios negam que as falhas sejam deles, mas sim da criação pelo pai ou mãe.

Ainda assim, mesmo com algumas falhas e imperfeições, o atual sistema de produção de seres é melhor do que o que havia nas décadas passadas, quando era preciso dois seres, de sexos opostos, para se ter um filho. Infelizmente, mesmo com toda evolução da ciência, esse processo rudimentar de reprodução humana, mesmo ultrapassado, ainda é praticado em algumas povoações de núcleos de uns poucos sub-mundos.

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