*Por Francisco Xavier Gomes

CACOAL: A CULTURA, O PÃO E O CIRCO…
A cultura no município de Cacoal tem sido, com grande insistência da administração municipal, conduzida apenas para a manipulação de pessoas, nos mesmos moldes utilizados na Roma Antiga; e uma parcela considerável da população parece não perceber isto. Com uma frequência exaustiva, a Secretaria de Cultura de Nossa Urbe Obediana contrata, com todas as bênçãos do legislativo municipal, diversos artistas que cobram valores absurdos para estrelarem os palanques políticos municipais. E a edilidade vai além: cada vez que esse tipo de programação acontece no município, os vereadores atuam como garotos-propaganda desse sistema de manipulação do contribuinte mais desatento, enquanto a cidade passa por inúmeros problemas que deveriam ser tratados com prioridade e seriedade pelos mandatários atuais. E não se trata de ter posição contrária aos artistas contratados, porque isto não muda o cenário do uso de recursos públicos para alimentar a cultura do descaso contra a história e contra a arte local. A cultura do pão e circo é algo arcaico e medíocre…
O conceito de cultura, para as pessoas que contratam esses artistas que não possuem nenhuma relação com Cacoal, é sempre voltado para puxar o sarrafo para baixo, enquanto a arte e a cultura local agonizam. Não é possível que as pessoas da Secretaria de Cultura não percebam tanto descaso. Não é possível que os vereadores tratem com tanto desrespeito a cultura e os artistas locais. Imagine o volume de recursos que o município gasta para pagar artistas nacionais sendo empregado para estimular a cultura local: o teatro, a dança, a música, a poesia, a leitura… Isso é promover a cultura local!! No caso específico da última festa realizada no município, se a festa tem a finalidade de falar do café, do cacau, por que não acontece um festival de poesia com esse tema? Por que não acontece uma apresentação de teatro com esse tema? O que é que tem a ver hino gospel com a cultura do café e do cacau? Os recursos públicos municipais poderiam ser utilizados para criar em Cacoal aulas de teatro, concursos de redação com a temática de determinado evento, concurso de poesia sobre a história do município, sobre a história dos pioneiros… Isso é promover a cultura!!! A cultura do pão e circo possui caráter eleitoral; nunca cultural…
E nesses eventos, que possuem apenas finalidade de alienação eleitoral, ainda surgem pessoas totalmente sem noção, que organizam o foguetório. Essa prática representa um verdadeiro desrespeito aos autistas, crianças, idosos e animais. Pura falta de respeito e total descaso! Num dia, os políticos da cidade dizem que o Centro do Autista precisa de investimentos. No outro dia, sobem num palanque para estourar centenas de foguetes. Isso pode ser tudo; menos cultura! A não ser que seja a cultura do desrespeito. A impressão que fica é a de que os políticos de Cacoal ignoram completamente o número de autistas do município. Ou será somente pelo prazer de desrespeitá-los? Em diversos pontos diferentes da cidade foi possível ouvir o estampido dos foguetes que foram estourados pela turma que diz respeitar autistas, crianças, idosos… Isso tudo para comemorar a vinda ao município de cantores que possuem como única finalidade ganhar dinheiro fácil. Nos municípios onde a cultura realmente é valorizada e onde existem políticas públicas para promover a cultura local, esses artistas jamais seriam contratados.
E o contribuinte poderia, muito bem, perguntar quantos mil reais a Secretaria de Cultura já empregou para a contratação de artistas locais, para a promoção da arte e a cultura de Cacoal. Quanto, desses recursos, foi empregado para reestruturar o teatro municipal? Quantos estudantes de Cacoal foram premiados pela produção de redação, leitura de livros, produção de poesias? Quantos livros novos foram comprados para a Biblioteca Municipal? Qual foi o valor que a Secretaria de Cultura já empregou para promover festivais de culinárias que possam exaltar o café, o cacau e outros produtos locais? Quando foi que Cacoal realizou algum evento para mostrar a cultura pomerana, que representa as raízes de muitos cacoalenses? Que políticas públicas são essas, que se voltam para enriquecer artistas já consagrados e abandonam a produção e a promoção de cultura e arte local? E alguns vereadores costumam bater no peito e declarar que 15, 20 ou 25 mil pessoas foram ao Complexo do Arrancadão bater palmas para artistas que vêm ao município cantar hinos. É isso que eles chamam de promover a cultura local? O nome disso é pão e circo, senhores e senhoras!!!
Claro que muitas pessoas, ao lerem esse texto, farão beicinho! É lógico! Porque essas pessoas também não possuem nenhum interesse em ver a arte e a cultura de Cacoal sendo mostrada. Os artistas de Cacoal e as pessoas que promovem a verdadeira cultura servem apenas como cabos eleitorais das pessoas que utilizam os recursos públicos para valorizar o que é de fora. Até a matemática desse pessoal é equivocada, porque, se 20 mil pessoas batem palmas para a cultura do pão e circo, as demais 80 mil pessoas que fazem parte da população não participam, porque são ignoradas pela turma que concebeu como cultura a contratação de cantores de hinos. Enquanto imperar, em Nossa Urbe Obediana, a cultura do pão e circo, a verdadeira cultura e arte locais serão lembradas somente nas campanhas eleitorais de políticos medíocres… Tenho dito!!!
*FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista




















