JUNTOS E MISTURADOS
A Secretaria Municipal de Educação de Cacoal adotou recentemente uma medida que deixou muitas famílias da zona rural do município irritadas. Agora, o prefeito Adailton Fúria e seu secretário decidiram que os alunos de séries diferentes serão misturados na mesma sala para fazer economia. Esse sistema de ensino é chamado de muiltisseriado e está previsto na legislação para casos de comunidades que vivem muito distante do setor urbano e onde o acesso é muito difícil. Geralmente é adotado em comunidades quilombolas ou ribeirinhas. Entretanto, nos locais em que o sistema multisseriado é adotado, os professores precisam passar por um processo de formação específica para atender alunos nessas situações. Esse treinamento com professores não aconteceu em Cacoal. Dessa maneira, é muito provável que os resultados ao fim do ano letivo sejam muito ruins. Mesmo que os alunos sejam aprovados para as séries seguintes, certamente o aprendizado terá sido prejudicado, principalmente porque o tempo que os professores terão para atender os alunos na mesma sala será muito menor do que em uma sala comum. Depois da grave crise de pandemia que provocou a adoção de aulas remotas, misturar os alunos na mesma sala é uma medida preocupante, porque prejudica a qualidade da aprendizagem.
BICICLETAS EDUCACIONAIS
O secretário de educação de Cacoal, em reuniões internas da secretaria, alega que o sistema multisseriado será implantado para fazer economia de recursos. Porém, a mesma secretaria está preparando um pacote com centenas de bicicletas que serão distribuídas para os alunos da rede municipal nos próximos dias, por ocasião do período em que se comemora o Dia das Crianças. Nesse caso, não haverá economia na compra de bicicletas, porque o intuito é fazer a festa. Dizem que a tendência é que os alunos do sistema multisseriado sejam presenteados com bicicletas, porque isso ajuda a convencer as famílias a aceitarem a ideia de misturar os alunos de séries diferentes. Na Roma Antiga, esses métodos políticos eram chamados de “pão e circo”, medida adotada para distrair as pessoas sobre os problemas reais. Na última edição de distribuição de bicicletas, o prefeito apareceu fantasiado de Chapolin Colorado, personagem da série mexicana Chaves. Este ano, ainda não sabemos qual será a fantasia, mas é possível que seja a mesma. Vereadores, secretários e outras autoridades já se preparam para subir no palanque. Este ano, a festa deve ser bem agitada, porque no próximo ano, caso concorra à reeleição, o prefeito estará impedido de fazer a distribuição de brindes, já que haverá eleições municipais.
JOVENS GÊNIOS
A ideia de premiar estudantes começou no primeiro ano da gestão Fúria. Para este ano, a expectativa é que a Secretaria de Educação de Cacoal faça a distribuição de mais de mil (1.000) bicicletas para a festa da criançada. O evento segundo a secretaria, visa atender ao Programa Jovens Gênios, cuja finalidade é premiar a arte. Para ganhar uma bicicleta, o aluno precisa fazer um desenho, dançar ou apresentar uma peça de teatro. Promover a arte é realmente uma boa iniciativa, embora os critérios necessitem ser bem avaliados. Como a distribuição de bicicletas para os alunos começou em 2021, é possível afirmar que praticamente todos os alunos da rede municipal já foram contemplados. Em edições anteriores, muitos Jovens Gênios da rede municipal tiveram uma ideia genial: eles receberam as bicicletas e venderam para usar o dinheiro em outras prioridades. Para a festa, a secretaria de educação também já providenciou a licitação para comprar salgadinhos e outros lanches que vão custar R$ 242.296,71 centavos e serão utilizados nas comemorações. Não é possível afirmar que o município consiga formar tantos gênios usando o sistema de multisseriado, mas pelo menos mil jovens gênios serão produzidos esse ano. Como a pandemia vitimou mais de 700 mil pessoas, entre elas muitos cientistas, é necessário mesmo que Cacoal se preocupe em produzir novos gênios. A ciência agradece.
SALÁRIOS CORTADOS
O novo presidente da Câmara de Cacoal, Valdomiro Corá, tomou uma medida que vai deixar os vereadores do grupo do prefeito muito irritados. Ele determinou os descontos nos salários dos vereadores que faltaram à sessão que elegeu a Mesa Diretora da Casa de Leis. Os valores tinham sido descontados pelo ex-presidente João Paulo Picheck, mas foram devolvidos aos vereadores, quando Magnison Mota fez um acordo para se tornar presidente e abandonou o grupo de oposição. Entretanto, o Tribunal de Contas do Estado de Rondônia emitiu documento para a Presidência da Câmara de Cacoal informando que os descontos devem ser feitos, caso representem prejuízos para os cofres públicos. A legislação municipal determina que os vereadores que faltarem às sessões ordinárias devem ter os valores descontados nos salários. Então, Corazinho garante que apenas cumpriu a lei, porque há vídeos, atas e outros documentos que comprovam as faltas. O vereador Magnison Mota, que também votou em Valdomiro Corá para a presidência da Casa de Leis, não está na lista dos descontos, apenas os seis vereadores que formam o chamado “núcleo duro” da base aliada do prefeito Adailton Fúria. Os vereadores que tiveram os salários descontados têm o direito de acionar a justiça para rever os valores. Corazinho disse que devolve caso a justiça entenda que há legalidade.
FALTA DE MEDICAMENTOS
As pessoas que precisam de medicamentos básicos, que devem ser fornecidos pela Farmácia Municipal, dizem estar sofrendo muito com a constante falta de medicamentos. Segundo reclamações de diversas pessoas que procuram o setor, faz tempo que alguns medicamentos estão em falta. No portal de transparência do município há um processo de licitação em andamento para a compra de medicamentos e possivelmente nos próximos dias ou meses a situação será resolvida. O Conselho Municipal de Saúde não fez nenhuma manifestação pública sobre o assunto, mas há quem diga que grande parte do conselho é dominada pela Administração Municipal e que alguns conselheiros possuem parentes nomeados na administração ou devem favores políticos. Essas coisas não podem acontecer no sistema de saúde. A Secretaria de Saúde de Cacoal precisa fazer um planejamento mais organizado e evitar que faltem medicamentos básicos na Farmácia Municipal. Com certeza, os profissionais do setor, principalmente os médicos, podem orientar a secretaria sobre quais são os medicamentos mais consumidos pela população e sobre quantidades a serem adquiridas. Existem muitos municípios no Brasil onde há leis municipais que obrigam a secretaria de saúde a informar permanentemente sobre a quantidade e tipos de medicamentos à disposição nos estoques do município. Já que acabou a briga pela presidência, nossos vereadores bem que poderiam pensar em uma lei municipal que trate desse assunto. A população seria muito beneficiada.
PAUTAS DE CAMPANHA
Em 2020, cerca de 200 ou 300 candidatos a vereadores se apresentaram à população de Cacoal. Eles diziam que queriam ser eleitos para defender a saúde, a educação, o produtor rural, as crianças, os idosos, os portadores de deficiências, o meio ambiente, o esporte, a segurança pública, a geração de empregos e muitas outras pautas que qualquer pessoa reconhece como prioridade. Além disso, diziam que acabariam com todas as mamatas, com as negociações de nomeações de amigos e parentes e que iriam modernizar as leis do município. Muito bem! A população foi às urnas e elegeu nove vereadores novatos, mantendo nos mandatos somente Valdomiro Corá, Paulinho do Cinema e João Paulo Picheck, que ocupava a vaga da vereadora Maria Simões, alçada ao cargo de prefeita. Até hoje, nenhuma lei municipal foi modernizada, os problemas da saúde são os mesmos, a educação tem os mesmos problemas, os únicos empregos gerados pelos vereadores são nomeações de parentes e amigos e as velhas pontes de madeira em muitas estradas rurais são as mesas. São muitos os cacoalenses que alegam que não conseguem ver uma mudança significativa para melhorar a vida da população.
PROJETOS DE REELEIÇÃO
Esse cenário indica que, em 2024, os mesmos candidatos vão querer ser reeleitos, os discursos deverão ser os mesmos e as pautas serão as mesmas também. Com tantas confusões ocorridas entre os vereadores, a atual Câmara de Cacoal já é considerada por muitos eleitores como a pior da história do município. Alguns vereadores, para fingir que trabalham, adotaram a estratégia de fazer fotos e vídeos em lugares onde existe algum trabalho da prefeitura ou do estado e dizem que eles pediram o serviço. Resta saber se isso vai convencer o número de eleitores suficientes para garantir a reeleição de alguns. Um exemplo de uso das ações para fazer politicagem é sobre as casinhas populares que estão em construção. Alguns vereadores fizeram vídeos e chegaram a chorar de emoção, dizendo que a coisa só andou porque eles pediram. Em Cacoal, até a compra de uniformes para vigilantes virou motivo de propaganda política. Essas práticas da velha política podem convencer muitas pessoas, mas talvez não sejam suficientes para garantir um projeto de reeleição, porque os candidatos novatos irão às ruas, bairros e casas da cidade dizer que nada mudou. Os vereadores precisam acordar e perceber que eles podem ter esquecido das promessas, mas os eleitores e os novos candidatos não esquecerão tão facilmente.
PARA REFLETIR:
”As promessas dos políticos são como pétalas ao vento, belas e efêmeras. Mas cuidado, pois por trás delas podem esconder-se as sementes das maiores mentiras.” (Francisco Leobino Assunção da Silva).