Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: A EDUCAÇÃO, A FAMÍLIA E AS AUTORIDADES…
O estado de Rondônia, infelizmente, faz parte da lista dos estados brasileiros nos quais é muito comum as agressões contra professores, e isto é um fenômeno que tende a aumentar consideravelmente, em função de diversos fatores, muitas vezes, ignorados por grande parcela da população e até mesmo por algumas autoridades que possuem o dever de zelar pela educação das crianças e adolescentes, mas que, em diversas situações, preferem adotar a teoria de dizer que não sabem da realidade. Como estamos nos aproximando do fim do ano letivo, não será nenhuma novidade a ocorrência de novas agressões contra professores, nesses últimos dias letivos de 2025. É uma constatação lamentável, mas a possibilidade de ocorrências desta natureza é gigantesca. De um modo geral, as omissões mais claras são praticadas por pais e mães de alunos que abandonam as crianças no portão da escola, normalmente do primeiro dia letivo de cada ano, e que reaparecem ao fim de cada ano, para criar confusão nas escolas, sem saber absolutamente nada sobre os filhos. Em Cacoal, esse tipo de situação é muito corriqueiro…
O Estatuto da Criança e Adolescente, em vigor desde 1990, estabelece que é dever dos pais acompanhar a vida escolar dos filhos. Este acompanhamento deve acontecer, desde o ato da matrícula, até o encerramento do ano letivo. A participação em reuniões da escola, o auxílio na realização de tarefas escolares, o contato com os professores, a criação de um vínculo contínuo com a escola… Tudo isso implica o acompanhamento da vida escolar dos filhos. E este acompanhamento tem acontecido? A resposta é: são raros os pais que fazem isso, muito raros mesmo! Este é, sem dúvida, um dos principais motivos do baixo desempenho de muitos alunos. Com relação ao ato da matrícula, o governo de Rondônia criou o sistema de matrícula online, justamente para piorar as coisas, porque contribui para o distanciamento dos pais da escola. Esse sistema também possibilita o acesso ao boletim escolar, isolando completamente os pais do contato com a escola. Então, funciona assim: muitos pais fazem a matrícula dos filhos online e esquecem de frequentar a escola. No fim do ano, geralmente no mês de novembro, aqueles pais que nunca foram a uma reunião, que não conhecem nem os professores de seus filhos, que nunca desceram do carro ou da moto nenhum dia no portão da escola, aparecem para querer saber por que os filhos estão à beira da reprovação. É muita cara de pau!!!
Outro fato muito comum é aparecer na escola um dos avós ou irmãos dos alunos dizendo que os professores é que estão errados. É nesses momentos que a escola costuma descobrir que muitos pais não moram sequer na cidade onde os filhos estudam e abandonaram os filhos com os avós ou outros familiares. Se fosse um caso ou outro, isso já seria preocupante. O problema é que este fenômeno tem virado a regra. É uma vergonha a família de um aluno com 11, 12 ou 13 anos não saber quem são os professores dos filhos. Mais vergonhosa ainda é a conduta agressiva que muitos deles adotam, nesse período final do ano letivo, tentando colocar a culpa pelo baixo desempenho escolar dos filhos nos professores. E fazem isso, muitas vezes, de maneira covarde, porque eles vão à escola e falam apenas com o diretor ou a diretora, querendo saber por que os filhos têm notas baixas. Como é que o diretor de uma escola vai saber de notas ou desempenho de alunos? Diretores possuem a função de dirigir escolas; não de cuidar de desempenho de alunos. Quem tem o dever de cuidar das notas e tarefas dos alunos são os pais. E cuidam? Claro que não! Todos os alunos que possuem baixo desempenho escolar possuem uma característica em comum: os pais são completamente ausentes da escola. Infelizmente, em Cacoal, estes fatos são absolutamente comuns. E a tendência é piorar…
Mas os pais das crianças e adolescentes não são os únicos omissos dessa história. Uns 20 ou 25 anos atrás, autoridades do Ministério Público faziam visitas nas escolas, participavam de reuniões de pais e faziam palestras para reforçar o dever dos pais em relação aos filhos. Isto também era uma prática dos conselheiros tutelares. Infelizmente, por diversas razões, não acontece mais esse tipo de apoio às escolas. No caso de Cacoal, a única autoridade que costuma frequentar as escolas com regularidade é o Superintendente Regional de Ensino, professor Bertino Neto. Ele visita as escolas, conversa com os funcionários, ouve as demandas e se movimenta para resolver. Ainda bem que as escolas de Cacoal possuem esse importante apoio da Superintendência Regional de Ensino e esse registro deve ser feito, para reconhecer o trabalho do professor Bertino. O que se pretende, ao fazer esses registros, não é exigir que Ministério Público, Juizado da Criança e Adolescência ou Conselho Tutelar frequentem as escolas com a mesma regularidade do superintendente. Não! Claro que não! Mesmo porque essas autoridades possuem muitas atribuições diárias. Mas se fizessem duas ou três visitas por ano, para fazer palestras e falar com os pais, seria, sim, um apoio fantástico ao trabalho dos professores. Até mesmo vídeos institucionais divulgados nas redes sociais por essas autoridades, cobrando dos pais que cumpram seus deveres, já seriam algo muito importante. E eficaz…
O grau de desinformação dos pais é tão grande que, pouco tempo atrás, o diretor de uma escola estadual recebeu notificação do Ministério Público, para “explicar” uma denúncia totalmente descabida, cujo teor dizia que a escola havia ficado 14 ou 15 dias sem aulas. Ora, meus amigos! Não foram apenas 15 dias; foram 20 dias, e a paralisação ocorreu em razão de uma greve estadual dos professores, exatamente para cobrar do governo de Rondônia que cumpra seu papel. Todas as pessoas desse estado ficaram sabendo da greve, porque a paralisação ocorreu nos 52 municípios. Diretor de escola não tem a responsabilidade de explicar razões de greves, porque nenhum deles fez greve. Mas esse tipo de confusão acontece justamente pela distância que algumas autoridades e muitas famílias têm da escola pública. Uma educação que cumpre efetivamente seu papel precisa contar com a presença diária dos alunos, com a vigilante observação das autoridades e com a participação dos pais. Se não for assim, dificilmente vamos atingir os índices de qualidade almejados por todos… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista
