Cacoal/RO, 2 de maio de 2024 – 17:20
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2 de maio de 2024 – 17:20

Coluna do Xavier – CACOAL:  AS CASINHAS, OS POLÍTICOS E AS EMOÇÕES…

Por Francisco Xavier Gomes

 

CACOAL:  AS CASINHAS, OS POLÍTICOS E AS EMOÇÕES…

 O universo político brasileiro é cheio de infinitas emoções diariamente. No país, pode-se morrer de tudo; menos de tédio. Aliás, o tema “emoções” já foi cantado em todas as emissoras brasileiras, quando Roberto Carlos lançou, em 1981, a canção com este nome. Esta semana, as emoções voltaram a rolar em Nossa Urbe Obediana, na ocasião em que foi divulgado um vídeo sobre o recomeço das obras das casinhas do Vale Verde. Os políticos que protagonizaram o ato ainda não eram nascidos, quando o ídolo de Cachoeiro de Itapemirim gravou a canção, mas eles reviveram e encenaram direitinho o contexto. Isto consolida a teoria de que a política impede que os brasileiros morram de tédio e Cacoal está inserida no contexto político, folclórico e dramatúrgico deste complexo universo. Não se pode afirmar que a Capital do Café se assemelha à Sucupira, porque os odoricos tupiniquins são menos talentosos, talvez estejamos mais para Tubiacanga, em proporções menores. Não obstante as comparações, a novela das casinhas populares em Cacoal ainda vai proporcionar muitos discursos emocionantes…

Na letra da canção já aludida, Roberto Carlos cravou o seguinte: “… se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi” … As famílias contempladas para receber as 300 moradias prometidas em Cacoal vivem emoções desde o ano de 2017, quando a então prefeita, Glaucione Rodrigues, anunciou a construção das casas. Naquela época, milhares de famílias foram inscritas. O número de inscrições ultrapassou 3 mil famílias. Posteriormente, 300 famílias foram sorteadas, no período em que a prefeita era Maria Simões. Além das 300 famílias contempladas, outras 152 ficaram na reserva e também vivem a emoção de realizar o sonho da casa própria. O problema é que o sorteio foi realizado no mesmo ano em que houve as eleições municipais de 2020, e diversos políticos eleitos em Cacoal fizeram de tudo para anular o sorteio. Eles alegavam que tudo tinha sido feito ilegalmente e que o sorteio não valia. Todos os políticos que fizeram lives esta semana para comemorar a retomada das obras trabalharam juntos para anular o sorteio. Claro que não conseguiram, porque não havia nenhuma ilegalidade no procedimento. Depois de tantas tentativas de anular o sorteio, eles não tiveram outra opção: foram obrigados a fazer discursos dizendo que sempre defenderam a legitimidade do sorteio realizado por Maria Simões. Tudo mentira…

A verdade é que o Programa Minha Casa Minha Vida foi extinto pelo governo que antecedeu Lula e um novo programa foi criado com o nome de “Casa Verde Amarela”. Esse programa de cores sugestivas nunca funcionou em lugar nenhum do Brasil e nunca foi construída nenhuma casa. Talvez o programa tivesse nome mais apropriado, se fosse batizado de “Casa Verde”, para fazer uma alusão ao Alienista de Machado de Assis, Simão Bacamarte. Em 2022, Lula da Silva anunciou sua candidatura e declarou que, entre outras prioridades, iria recriar o programa Minha Casa Minha Vida. Eleito, Lula cumpriu a promessa e as casinhas de Cacoal terão a obra retomada. O programa Minha Casa Minha Vida funciona num sistema de parceria entre Governo Federal, com estados e municípios, e isso precisa ser dito com clareza, para evitar que políticos oportunistas e demagogos tentem tirar proveito político. Neste programa, o Governo Federal disponibiliza os recursos e os municípios participam doando terrenos. Não existe emenda de deputados, senadores e muito menos de vereadores, já que os políticos do legislativo mirim não possuem a prerrogativa de emendas.

No caso de Cacoal, o prefeito que conseguiu o melhor resultado no programa Minha Casa Minha Vida foi Franco Vialeto, que construiu mais de 1.000 casas na Capital do Café. Essas 300 casas do Vale Verde aconteceram por iniciativa da então prefeita Glaucione e somente não foram concluídas porque o programa tinha acabado. Agora, retomado pelo governo Lula, espera-se que as famílias possam, enfim, ter o direito de receber suas casas e viver as emoções que a “Turma das Lives” viveu esta semana. Aos políticos eleitos a partir de 2020, cabe o dever de firmar novas parcerias para atender as demais famílias que não foram contempladas entre as 300 famílias e que continuam sem um teto para morar. A falta de moradias não dá espaço para demagogias e discursos fajutos. Quando a “Turma das Lives” fizer um trabalho para estabelecer novas parcerias na construção de casas, eu terei a obrigação de registrar aqui; mas esse oba-oba atual nas redes sociais é sinônimo de pura hipocrisia…

Além de novos projetos relacionados à moradia, os políticos de Cacoal deveriam trabalhar para a retomada da obra do Hospital Municipal; reforma da rodoviária; conclusão da Vila Olímpica; saneamento básico da rua Uirapuru e tantas outras obras prioritárias esquecidas pela Turma das Lives. O que impressiona nessa política ufanista que Cacoal pratica hoje é ver que muitas famílias prejudicadas nessa história das casinhas idolatram com tanta emoção políticos que usam a carência dessas pessoas para montar palanques eleitorais de modo tão asqueroso. É angustiante ver fatos tão heterodoxos serem o objeto das emoções tão afáveis cantadas por Roberto Carlos no século passado… Tenho dito!!!

FRANCISCO XAVIER GOMES

Professor da Rede Estadual e Jornalista

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