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12 de dezembro de 2024 – 14:50

Coluna do Xavier – CACOAL: O ENEM, O AGRO E OS ONAGROS…

Por Francisco Xavier Gomes 

 

CACOAL: O ENEM, O AGRO E OS ONAGROS…

 O debate político no Brasil ganhou definitivamente uma dimensão sem qualquer limite relacionado com a coerência ou pertinência temática, especialmente depois que milhões de brasileiros colocaram na cabeça a ideia que possuem formação acadêmica em tudologia e se acham no direito de discutir, teimar e bater o pé, para tentar impor todos os tipos de concepções relacionadas com assuntos sobre os quais não possuem qualquer informação. Há muita gente tentando decidir quem deve ou não deve parir; tentando impor o gênero para as pessoas; inventando delírios sobre banheiros “unissex” em escolas; inventando mentiras descabidas sobre supostos fechamentos de igrejas e incontáveis outros temas. Essas ideias, que cabem somente na cabeça de indivíduos como Dom Quioxote, partem até mesmo de brasileiros que possuem cadeiras no Congresso Nacional do Brasil, e chegam a todos os rincões da nação. A tese de delírio mais recente dessa turma surgiu de um grupo de congressistas que colocaram na cabeça a tese estapafúrdia de que o ENEM é uma prova “comunista” e que eles dominam as normas científicas da elaboração de questões. Em Rondônia, o caso mais emblemático é do deputado federal Lúcio Mosquini…

Instituído em 1998, o Ensino Nacional do Ensino Médio (ENEM) tem como avaliar o desempenho dos estudantes que concluem o ensino básico e servem principalmente como ingresso à educação superior, sendo um instrumento absolutamente necessário a qualquer pessoa que sonha fazer uma faculdade e buscar novos horizontes profissionais, no exigente mercado de trabalho. As provas são elaboradas por professores especialistas em cada área do conhecimento e selecionados muito antes da realização das provas. No caso do ENEM deste ano, os professores que elaboraram as questões foram selecionados pelo Ministério da Educação, através do INEP, ainda no ano de 2020. Os deputados federais, senadores e qualquer outro brasileiro têm total liberdade para fiscalizar o ENEM, em todas as fases, inclusive quando da licitação para contratar empresas que elaboram as provas. Diferentemente dos brasileiros comuns, deputados e senadores têm o dever de fiscalizar o Ministério da Educação e quaisquer outros órgãos da administração direta, indireta, autárquica ou fundacional do país. Inventar mentiras, delírios e calúnias contra o ENEM, entretanto, é uma conduta que não pode partir de nenhum deputado ou senador, sem que haja a devida comprovação de eventuais fraudes, porque isso é papel de delinquentes e jamais deveria partir de congressistas brasileiros.

O deputado Lúcio Mosquini, que foi preso no ano de 2014, acusado pelo Ministério Público de fazer parte de um grupo que teria praticado falsificação de documentos, fraude a licitações, peculato e lavagem de dinheiro, agora aparece para dizer que “representa o agro” e que deseja a anulação de questões do ENEM. Até hoje, a população de Rondônia não está devidamente esclarecida sobre o que resultou a Operação Ludus e o próprio deputado Lúcio Mosquini nunca mais falou sobre o assunto. Esse papo furado que anular questões do ENEM não possui qualquer razão científica ou jurídica e consiste apenas em delírios de pessoas como Mosquini, que sequer conhecem os fundamentos e finalidades do ENEM. É evidente que o setor do agronegócio é um setor importante da economia brasileira e possui maioria de pessoas honestas. Mas usar o agronegócio para falar em anulação de questões do ENEM, apenas porque não entendeu o teor das questões formuladas, é coisa de gente desocupada e sem nenhum compromisso com os quase quatro milhões de brasileiros inscritos esse ano e que sonham com uma vaga no ensino superior. A intenção da coluna não é, e jamais seria, acusar o deputado das mesmas coisas que o Ministério Público acusou, mesmo porque a íntegra das acusações nunca foi publicada e não temos nenhuma prova de participação dele nos fatos divulgados. Assim, é preferível pensar que o ilustre deputado é o mais inocente dos brasileiros e que jamais praticou qualquer um dos crimes citados na denúncia feita contra ele pelo Órgão Ministerial.

Todavia, é necessário esclarecer, e lembrar o deputado, que Rondônia carece de inúmeras ações no setor de saúde, educação, segurança, infraestrutura e diversos outros. Infelizmente, não se encontra, nos anais do Congresso Nacional, nenhum projeto deste senhor que tenha sido aprovado para melhorar os setores aqui descritos, mesmo porque ele compõe o chamado baixo clero do Congresso Nacional e não existe nenhum vestígio de que será alçado algum dia ao papel de protagonista no Congresso do Brasil. Fazer discursos e publicações, em nome do “agro”, para alimentar o ódio de milhares de desinformados, é um desserviço ao estado de Rondônia e ao país. Lúcio Mosquini aparenta muito mais um representante dos onagros; não do agro, porque ninguém tem notícia de nenhuma atividade dele que tenha peso no agronegócio rondoniense e muito menos do Brasil. Assim, qualquer deputado que tenha comprovação de fraude no Enem tem dever de denunciar e propor as eventuais punições aos culpados. Mas não se pode admitir esse delírio mequetrefe de pessoas sem nenhum conhecimento técnico sobre as provas do Enem. Os professores que dedicam horas, dias, meses elaborando as provas possuem qualificação científica para tal atividade e merecem respeito.

Finalmente, cabe esclarecer que qualquer apedeuta serve para ser deputado, basta que tenha o título de eleitor e a carteira nacional de habilitação.   Muitas vezes, deputados são eleitos e diplomados, mesmo presos e acusados de todo tipo de crime. Mas, ser professor é muito diferente!!! Lúcio Mosquini deveria procurar o que fazer; enquanto os milhões de candidatos inscritos no Enem procuram um caminho para obter uma formação que permita a eles encontrar um lugar ao sol, nesse país de onagros com mandatos e que dizem representar o agro… Tenho dito!!!

 FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista

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