Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: O UATIZÁPI, OS FANÁTICOS E A DESCOBERTA DO SAL…
A tecnologia é um dos instrumentos mais incríveis que o homem já descobriu, após a descoberta do sal, cerca de 10 mil anos atrás. Obviamente que a alusão ao sal é fundamental para esclarecer que, antes disso, o indivíduo se dedicava apenas à caça e à pesca, mas, como não havia um mecanismo para preservar os alimentos, o homem era obrigado a caçar ou pescar todos os dias, sob pena de passar fome. Mais de 10 mil anos depois, o advento da internet colocou o homem moderno em contato fácil e instantâneo com um turbilhão de informações que estão à inteira disposição de qualquer apedeuta, com um simples toque na tela do celular ou outro equipamento que possibilite o acesso às informações. As coisas começaram efetivamente a se complicar 20 anos atrás, com o surgimento do Orkut e outras ferramentas de interação. Mas foi com o uatizápi que a situação ficou tensa…
É muito importante esclarecer que o termo “uatizápi” é uma homenagem ao grande Ariano Suassuna, o único patriota, de verdade, nascido no século XX. Basta observar que ele se recusou a receber os prêmios Shell, Sharp e Coca-Cola, por razões que indicam a verdadeira essência de um patriota, mas que são completamente ignoradas pelos “Patriotas Eclesiásticos” ou pelos “Patriotas do Uatizápi”. Suassuna não brincava de ser patriota nas redes sociais; ele era um nacionalista convicto! Aliás, as pessoas que conhecem um pouco os fundamentos da Última Flor do Lácio costumam ter muita cautela com os substantivos ou termos adjetivados cuja sufixação ocorra pela partícula “ota”, como é o caso de marmota, idiota e outros… Em sua essência, Suassuna era mesmo um nacionalista, aliás, raríssimo!! Não foi por mero acaso que Ariano eternizou na Literatura brasileira a expressão “não sei, só sei que foi assim”, hoje muito utilizada como argumento “científico” por milhões de brasileiros, em suas postagens nas redes sociais. Sempre que alguém questiona uma informação infundada nas redes sociais, aparece alguém para dar vida a João Grilo e Chicó…
Em função dos fatos epigrafados, uma legião de fanáticos aparece, todos os dias, para tentar impor a teimosia como ciência; e essa turma tem o hábito de bater o pé e dizer que tem o direito de ter “opinião diferente”. Ora, meus amigos! Ter opinião diferente é complemente diferente de fazer postagens com conteúdos totalmente toscos e sem nenhum fundamento de verdade ou ciência. Emitir opinião implica comentar um fato com base em alguma informação técnica ou científica. O simples fato de falar bobagem não representa emitir opinião. Assim, as pessoas se dão o direito de cometer crimes nas redes sociais, fazer acusações levianas e mentir descaradamente. Isso tudo em nome da chamada “liberdade de expressão”. Isso revela total falta de zelo pela legislação em vigor no país e por todo o conjunto da Literatura Brasileira. Recentemente, o grupo de fanáticos que tem mandato na Câmara dos Deputados resolveu aprovar uma matéria completamente absurda, em relação ao voto impresso, o que levou os fanáticos sem mandato ao êxtase. Se o voto impresso não existe no Brasil, como é que os deputados criam um mecanismo para apurar voto impresso? Isso é delírio puro!!
Após a lambança dos deputados fanáticos, os demais fanáticos estão há três ou quatro dias dizendo, em todas as redes sociais, que defendem o voto impresso e que nas próximas eleições este será o sistema do país. Conduta vexatória, por causa da impossibilidade jurídica de instituir esse delírio. Não tem como!! Se esse aborto jurídico passar pelo plenário da Câmara dos Deputados, fatalmente será enterrado pelo Senado Federal, onde, ainda, existem congressistas serenos. E, ainda que houvesse na Câmara Alta 54 fanáticos, o que não há, o judiciário brasileiro estaria encarregado de sepultar a lambança, com toda a razão. O ruim disso é fechar 2024 vendo as delirantes postagens nas redes sociais. Mas, mesmo assim, esse turbilhão de bobagens não é suficiente para negar a importância e utilidade da internet, porque, neste universo, existem inúmeras coisas boas que, infelizmente, são ignoradas, entre elas brilhantes livros escritos por especialistas em todas as áreas do conhecimento. Um simples Kindle possibilita o acesso a um número infinito de excelentes livros, mas não dá para cobrar a leitura de fanáticos, porque, quando alguém cobra, eles entendem como uma conduta de tentar humilhá-los. Não se trata de humilhação; a leitura sobre economia, legislação, estrutura da república, atribuições dos poderes é instrumento necessário para credenciar qualquer pessoa a discutir esses temas. Sem isso, a possibilidade de passar vergonha é a mesma de cair alguma chuva em Rondônia, entre o dia de hoje e o mês de março do próximo ano…
Neste caso, ainda que os fanáticos das redes sociais não tenham entendido, até hoje, o que representa a descoberta do sal para a humanidade, estarão obrigados a aceitar que nem todas as pessoas estão dispostas a aceitar mentiras, inverdades, delírios e leviandade nos grupos. A alternativa é procurar estudar e entender como funcionam os fatos, as informações, a ciência. O uatizápi pode ser uma forma de manifestação dos fundamentos da democracia, mas os delírios hiperbólicos hão de ter limites, porque eles esbarram na disposição de muitas outras pessoas de ler, estudar, analisar fatos… O resto não passa de meros moinhos de ventos… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista