*Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: OS VASSALOS, OS PROJETOS E O CURRAL…
O bordão “Cacoal tem pressa”, com certeza, tornou-se uma marca dos debates políticos de Nossa Urbe Obediana, para o bem e para o mal. Há os que falam de pressa para o não cumprimento de promessas, há os que falam de pressa para os paliativos pré-eleitorais e há os que falam de pressa para discutir serenamente a cidade, os anseios da população, as políticas públicas e outros temas que inevitavelmente serão pautas das discussões neste ano. Claro que o fato de haver eleições em 2024 vai proporcionar debates mais efusivos e diversos políticos em atividades no município já começaram a buscar uma roupa nova para os discursos que visam convencer o eleitor cacoalense de suas intenções, quanto à permanência nos mandatos. Embora isto não seja muito perceptível aos políticos locais, a população pode não ter tanto interesse, ou tanta pressa, em assimilar as ideias, mesmo porque isto não foi demonstrado, com muita convicção, no decorrer dos últimos três anos e quatro meses, período em que os atuais edis ocupam os mandatos. Então, agora, é muito natural que surjam, por parte dos vereadores, ideias brilhantes sobre projetos que jamais foram discutidos. Até pouco tempo atrás, a principal pauta da Câmara Obediana era a briga pela presidência da Casa e os ataques pessoais…
Uma rápida visita ao Portal da Transparência da Câmara de Cacoal revela, porém, que as brigas tendem a serem mitigadas e a harmonia eleitoral deve ser o tom, a partir de agora. Diversos vereadores aparecem no portal, com previsões de viagens para diferentes estados brasileiros em busca de “modelos de projetos” que, segundo eles, são muito importantes para Cacoal e devem ser implementados. Isto agora! O eleitor certamente já está muito habituado a ouvir discursos desse gênero. Às vésperas da eleição municipal, diversos temas passaram a ser prioridade, embora tenham sido relegados a segundo ou terceiro plano, desde o início da atual legislatura. Então, hoje surgem os políticos que são defensores do esporte, da juventude, da geração de empregos, da industrialização do município, da saúde, da educação, do meio ambiente e outras pautas que exigem “pressa”, nos discursos da edilidade obediana. A questão é: por que nossos vereadores descobriram, somente agora, que amam tanto o esporte e outros temas? Claro que os vereadores vão fazer beicinho, porque eles detestam a ideia de serem contestados, mesmo quando praticam a demagogia exacerbada. Todavia, há algumas perguntas que precisam ser respondidas com a mesma pressa empregada pelos vereadores para trazer à baila todos os temas que enfeitaram os discursos de 2020…
O eleitor, por sua vez, pode resolver isto facilmente e nem precisa ter respostas. É algo que pode ser esclarecido com perguntas, e algumas dessas perguntas serão inevitáveis. Vejamos alguns exemplos: Quantos projetos sobre o esporte foram elaborados e discutidos pelos vereadores de janeiro de 2021 até o mês passado? Quantos projetos elaborados pelos vereadores foram apresentados, discutidos e aprovados para melhorar a qualidade da educação, nesses mais de três anos de mandato? Quantos projetos para melhorar o sistema municipais de saúde foram elaborados por nossos vereadores? Qual foi o projeto apresentado pelos vereadores para fomentar a cultura local? Onde estava escondido esse amor platônico que eles dizem ter pela cidade? Por que tanto amor escondido durante três anos e quatro meses? Essas perguntas podem causar grande irritação nos vereadores, mas elas representam a realidade dos mandatários atuais. Se existem projetos sobre os temas citados, e outros, basta que os vereadores mostrem à sociedade. É curioso constatar que muitos de nossos edis não gostam desses questionamentos, e alguns deles chegam a dizer que tiveram seus nomes expostos em razão da farra de diárias que a Câmara de Cacoal proporciona. Estranho um vereador reclamar que teve seu nome exposto. Os vereadores são pessoas públicas e, em razão disso, são expostos naturalmente. A própria campanha eleitoral de 2020 é uma forma de exposição. Quem não quer ser exposto não deve ser sequer candidato…
Aliás, nos últimos dias, os vereadores fizeram grande exposição negativa do secretário de saúde estadual e o secretário também não pode reclamar, porque os secretários estaduais, assim como os vereadores, também são pessoas públicas e todos passíveis de elogios e críticas. Não há razão para reclamações! O curioso na história toda é que nenhum dos secretários municipais é cobrado pela falta de ações. Claro! Porque os conchavos políticos e o compadrio impedem os vereadores, especialmente aqueles da tal “base aliada”, de fazerem as cobranças que devem ser feitas aos secretários municipais. Em Cacoal, já se fala publicamente de curral eleitoral com a maior naturalidade do mundo. Recentemente, o próprio prefeito declarou, em áudio que circula pelas redes sociais, que não vai aceitar nenhum candidato a vereador fazer campanha no Riozinho, porque, segundo o prefeito, somente dois vereadores da base dele é que têm direito de pedir votos no Riozinho. Onde é que já se viu isso? Quais foram os projetos elaborados pelos dois vereadores que o prefeito tenta proteger e que trouxeram benefícios concretos para a população que habita o Riozinho? Por que somente os dois têm direito de fazer campanha eleitoral no Riozinho? Quais os critérios para essa posição do prefeito? Os eleitores do Riozinho não são propriedade de nenhum político. É ridículo ouvir vereadores dizendo que o Riozinho é um curral!! A sofrida população do Riozinho merece respeito!
Na realidade, não é possível saber o que pensam os eleitores que vivem no Riozinho, mas determinar que o local é patrimônio eleitoral de duas ou três pessoas é algo absolutamente pretensioso. Aliás, ao dizer isso, o prefeito sugere que os outros 10 vereadores nada fizeram pela população do Riozinho e eles não falaram nada. Todo mundo se calou! A impressão que fica é que os dois vereadores citados pelo prefeito é que são propriedade do alcaide e os demais membros da base aliada são apenas mamulengos do individualismo, do egocentrismo, do despotismo… Neste caso, a maior pressa de nossos edis deveria ser declarar a independência política, porque a vassalagem era coisa da Idade Média. No mais, quando os vereadores responderem sobre as perguntas epigrafadas, voltaremos ao tema… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
*Professor da Rede Estadual e Jornalista