O RETORNO
*Daniel Oliveira da Paixão
Caros leitores da Tribuna Popular,
É com imenso prazer que anuncio meu retorno às páginas deste jornal, que desempenhou um papel essencial nos primeiros passos de minha jornada no jornalismo. A Tribuna Popular foi o lar que me acolheu quando mais precisava e, em gratidão a esse início tão marcante, tenho o prazer de informar que minha coluna, Papudiskina, será exclusiva para os leitores deste estimado veículo.
Nos artigos que virão, proponho uma reflexão cuidadosa e respeitosa sobre temas que frequentemente evitamos: política, economia, religião e até mesmo futebol. São assuntos que, por convenção, dizem ser tabu discutir. Mas se nos abstemos dessas conversas, o que nos resta para dialogar? É na diversidade de opiniões, fundamentadas no respeito mútuo, que encontramos a verdadeira riqueza do debate público.
Nossa sociedade, apesar de regida por leis e bons costumes, destaca-se pela sua diversidade étnica, cultural, religiosa e ideológica. A Tribuna Popular, como sempre, será o palco para essa diversidade de vozes, proporcionando não apenas informação, mas também espaço para reflexão e diálogo.
Agradeço a todos vocês, leitores fiéis, pela acolhida e pelo contínuo apoio. Que possamos juntos desbravar esses temas complexos e essenciais, sempre com o compromisso de promover uma discussão construtiva e inclusiva.
Observação: os leitores também podem sugerir temas escrevendo para [email protected]
ENCONTRANDO A VERDADE JUNTOS: A VEZ QUE UM ADVENTISTA ME SILENCIOU!
Como estou frustrado com o establishment capitaneado pela Globo, não assisto mais à TV ao vivo. Em vez disso, procuro bons conteúdos e temas que nos levam, no mínimo, a refletir sobre quem somos e para onde vamos. Se é que merecemos uma graça maior do que essa que Deus já nos concedeu, que é o dom da vida. Como cristão, tenho de me equilibrar entre fé e razão.
Foi navegando pelo YouTube que me deparei com um debate, de dentro para fora, de adventistas a respeito do sábado. Como sabemos, Deus queria que os homens trabalhassem pelo pão de cada dia, mas deveriam escolher um dia para descansar, como ele próprio fez. Nesse debate, o eloquente adventista, ao responder uma pergunta que veio do cerne de sua própria igreja, destacou que há muitas passagens na Bíblia, inclusive no Novo Testamento, nas quais Cristo colocava o sábado como o dia do Senhor. Ele pregou aos sábados, disse que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la. Nisso, o adventista tem toda a razão. Eu, como cristão que guardo o domingo, realmente, à luz da Bíblia, não tenho como contradizê-lo.
Eia, vamos lá. Nem eu estou certo, nem o eloquente pregador adventista. Tudo o que ele disse sobre Jesus ter guardado o sábado e ter dito que veio cumprir esse mandamento e não o abolir, é verdade. Se o pregador adventista, que ao que parece dá muita ênfase à manutenção da lei mosaica, assegurando que Cristo veio cumpri-la e velar pela sua manutenção, também deve ter lido, no Velho Testamento, que aquele que diz cumprir a lei e ignora ao menos um desses mandamentos, já não é seguidor da lei, mas apóstata.
Pois bem. Vai aí uma pergunta: o adventista realmente cumpre os 10 mandamentos? De verdade? Eu não sei. O eloquente pregador fez um desafio, ainda que falando para os seus, mas cujo alvo eram nós outros, não adventistas, dizendo que aguarda que alguém lhe prove na Bíblia que Jesus estabeleceu o domingo como dia de guarda.
Ora, ele tem razão. Não vamos poder provar. Somos perdedores, nós outros, não adventistas? Mas fica aqui também o desafio aos adventistas. São eles cumpridores dos dez mandamentos, tal qual os judeus ortodoxos, especialmente os pré-messiânicos? Eles também devem silenciar quanto a isso. “Não há um justo sequer”, diz a própria Bíblia. Todos pecamos e destituídos estávamos da graça de Deus. A mesma Bíblia, por mais que isso aos olhos de nossa sociedade ocidental represente um apartheid, diz que a Salvação vem dos Judeus, mas que Cristo a compartilhou também conosco, chamados nessa outrora política religiosa do apartheid do Velho Testamento. Nós outros, os não adventistas, flexibilizamos os 10 mandamentos, pois reconhecemos que não somos dignos do céu, se com base na lei tivéssemos de viver, mas se há salvação para nós, ela já não provém da lei, mas da graça.
Para além disso, não vai aqui uma crítica aos adventistas, mas o meu reconhecimento de que, tanto nós quanto eles, flexibilizamos os dez mandamentos. Mesmo sendo esses mandamentos tão limitados, ainda que na fé judaica há centenas de outros mandamentos, mesmo que não explícitos, mas que estão implícitos nos ordenamentos dos anciãos judaicos, na tradição, no Talmud etc.
Em síntese, irmãos adventistas: Vocês têm razão: deveríamos guardar o sábado. Não há justificativa, sob o ponto de vista legal alicerçado na lei mosaica, para que guardemos o domingo e não o sábado como dia de descanso. Nisso vocês estão certos e nós errados. Mas temos escusas também para irmos ao mesmo céu ao qual vocês lutam para ir um dia. Esse nosso pecado de não guardarmos o sábado, embora devêssemos, não nos impedirá de ir ao céu, visto ser a salvação uma graça. Se é por graça, é pela benevolência de Deus e Cristo, embora Ele não tenha abolido o sábado. O que é por graça, não é por merecimento, mas mera liberalidade de quem a concede, Deus. Se não fosse por Graça, nenhum de nós estaria salvo. Não fosse pela graça de Deus, mesmo Cristo, a quem cultuamos como filho unigênito de Deus, não se enquadraria na salvação estrita, aquela que não viria da Graça, mas de estrito cumprimento da lei mosaica. Cristo fez tantas coisas que eram abominação àqueles a quem ele chamou de fariseus hipócritas. Cristo conversou com pecadores, perdoou a adúltera e isso era um sacrilégio aos cumpridores da Lei Mosaica.
Irmãos adventistas e irmãos não adventistas, não provoquemos uns aos outros por questão de fé e o que entendemos como tolerável diante de Deus. Nós outros, não adventistas, e vós outros, os adventistas, se tivéssemos como condição sine qua non o cumprimento da lei mosaica, destituídos estaríamos da salvação. Mas ela, a salvação, nos é conferida por Cristo Jesus, que cumpriu a Lei, mas que também a transgrediu se a fosse observar em stricto sensu. Tenhamos mais amor e repudiemos o apartheid que não seja meramente congregacional. Fiquemos dentro de nosso quadrado, mas cientes de que um quadrado deve ser parte de uma colcha com outros quadrados e juntos teçamos o tapete glorioso que unirá a todos nós em nossa jornada como convidados de honra do nosso Deus em suas mansões celestiais.
Daniel Oliveira da Paixão é jornalista que teve Tribuna Popular como seu primeiro lar em sua jornada profissional em iniciada em 1987