Desde que a pandemia de coronavírus foi declarada no início de 2020, o Brasil e o Mundo têm acompanhado a luta dos cientistas, apoiados por diversos governos, em busca de uma vacina que pudesse proteger a humanidade contra esse vírus que tem causado tantas baixas em nosso país e em todo o mundo. Desde dezembro, as primeiras vacinas chegaram e algumas nações se destacam pela vacinação de suas populações e outras, como o Brasil, estão apenas em um estágio intermediário e com dificuldades até em definir um cronograma de vacinação e estabelecer critérios mais justos na distribuição das poucas doses que estão chegando.
Como em todos os eventos de grande repercussão, a política acaba às vezes por prejudicar alguns segmentos em detrimento de outros. Quando falamos de política nos referimos à ações de políticos, os quais miram sempre suas respectivas popularidades e escolhem grupos importantes da sociedade para centrar os seus esforços e nesse sentido, não estão muito claros os critérios para a vacinação dos brasileiros. A cada instante os políticos sofrem o lobby de grupos mais poderosos que querem ser imunizados antes de outros.
Aqui em Cacoal primeiro foram vacinadas as pessoas mais idosas e, portanto, o primeiro critério foi o de faixa etária, o que, em princípio, foi a medida mais acertada, posto que, até recentemente, as primeiras cepas do vírus eram mais letais com as pessoas acima de 60 anos de idade. Em alguns países, como Itália e Espanha, a letalidade entre idosos chegou a ser 10 vezes maior do que entre as pessoas mais jovens. Essa realidade, porém, parece estar mudando, uma vez que o vírus sofreu processo de mutação e os estudos preliminares mostram também uma tendência de uniformidade de letalidade em todas as faixas etárias.
Esse primeiro critério de vacinar pessoas por faixa etária criou expectativas nas demais faixas etárias e nas redes sociais foram veiculados calendários fictícios de quando chegaria a vez de cada um desses grupos, geralmente de dois em dois anos. Ocorre que, pelo menos em Cacoal, as autoridades mudaram os critérios e passaram a vacinar as pessoas com “comorbidades” e isso deixa as pessoas com menos de 60 anos sem uma expectativa de quando serão vacinadas porque é impossível saber, ao certo, quantas pessoas tem ou não comorbidades. A verdade é que, em geral, quase toda a população tem algum tipo de comorbidade, mas a maioria das pessoas não tem documentos que ateste isso. Quando um brasileiro vai a um posto de saúde, geralmente o corpo técnico dessas unidades de saúde apenas mede a pressão dos pacientes, pede exames e os analisam, e passa algum medicamento, mas esse laudo técnico raramente é entregue ao paciente.
Deputados, em Porto Velho, e vereadores, em nossa cidade, estão criando leis tornando certos grupos como prioritários, o que exaspera ainda mais os demais cidadãos que não são de grupos organizados.
Alguns grupos como o de professores e servidores públicos, das várias esferas, podem ter um peso maior em sua busca por inclusão no início da fila. No caso dos professores, a reivindicação é justa, pois a educação está praticamente paralisada e é necessário a retomada das aulas presenciais. Outros grupos, porém, podem ser privilegiados pelos políticos não por seus riscos, mas por ter um poder de mobilização maior. Isso aumenta a frustração da população não organizada, que é maioria, e aspessoas com mais de 50 anos, sem condições de provar comorbidades, ficam frustradas com a falta de perspectiva sobre o seu momento em que chegará sua vez.
Enfim, entendemos que alguns grupos, como o dos professores, realmente merecem uma atenção prioritária não porque corram mais riscos, mas em razão da importância que representam para o bom funcionamento social. No tocante a riscos, é difícil mensurar, pois cada grupo tem sua justificativa. Alguns grupos pequenos, mas que pouca gente presta atenção, já deveriam ter sido vacinados por serem expostos e exporem outros à contaminação, que são os mototaxistas, taxistas, motoristas e cobradores. Essa gente, pelo bem do país, já deveria ter sido vacinada. Os mototaxistas, por exemplo, são os trabalhadores que mais correm risco porque tem um contato físico muito estreito ao carregar seus clientes na garupa de suas motos. Essa gente, de verdade, já deveria ter sido incluída no início da fila.