O destaque é a frase “ordem e progresso” escrita no centro do pavilhão nacional, extraída dos ideais da doutrina positivista
Por Moisés Selva Santiago – Criada em 19 de novembro de 1889, a atual bandeira do Brasil tem cores cujos significados são conhecidos (talvez não mais ensinados): o verde representa as imensas florestas brasileiras (pelo menos as que existiram); o amarelo, significando as riquezas minerais (cujos lucros dificilmente estão na mesa do trabalhador e da trabalhadora); o azul fazendo referência ao céu desse país continental (embora ofuscado pelas queimadas e poluição); e as estrelas simbolizando a presença de cada estado da federação (entanto todos sujeitos ao humor de Brasília).
O destaque é a frase “ordem e progresso” escrita no centro do pavilhão nacional, extraída dos ideais da doutrina positivista. Na verdade, o filósofo francês Auguste Comte definiu o lema da seguinte forma: “o Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Será que os idealizadores da bandeira nacional esqueceram a primeira parte? Para o positivismo, “o Amor deve sempre ser o princípio de todas as ações individuais e coletivas. A Ordem consiste na conservação e manutenção de tudo o que é bom, belo e positivo. O progresso é a consequência do desenvolvimento e aperfeiçoamento da Ordem.” Em outras palavras, a doutrina que tremula na Bandeira do Brasil declara e enfatiza a realização dos mais nobres ideais da República: a busca e a manutenção de condições sociais básicas, como respeito aos seres humanos, salários dignos, cidadania, e o melhoramento do país em termos materiais, intelectuais, tecnológicos, entre outros.
Mas, se pensarmos com atenção, verificamos duas situações. Primeira, ao não escreverem “Amor, Ordem e Progresso” os idealizadores de nossa amada bandeira (talvez sem intenção) deixaram de fora justamente o princípio basilar não somente do positivismo ou de republicanos, mas também de todos os habitantes deste planetinha tão belo e frágil, que desejam viver em paz, com dignidade, respeito às diferenças, e exercício pleno e legal da cidadania. Diria mais: o Amor é, sim, o alicerce de todas as expressões religiosas mais sérias e respeitadas no mundo, além de ser o elo fundamental do convívio das pessoas consigo mesmas, com suas famílias, sociedades, nações, com o meio ambiente e com o Divino. Amar nunca foi, não é e nem será sentimento e atitude de “maricas” ou “subversivos”, tampouco de direita ou esquerda política. Pelo contrário, o amor além de ser biblicamente exaltado, é cantado por todos nós efusivamente no Hino Nacional: “pátria amada, Brasil!”
Em segundo lugar, a ausência do “Amor” no lema de nossa amada bandeira tem dado espaço à ascenção de líderes pouco ou nada comprometidos justamente com os ideais de 1889 e desejados em cada brasileira e brasileiro: nós queremos o Progresso individual, moral e social que venha da Ordem garantida nas leis, tendo como princípio o exercício do Amor em todas as ações individuais e coletivas, inclusive as dos mandatários e demais autoridades constituídas. Sem o Amor como princípio, as idiossincrasias pessoais da liderança do país rebaixam o brasileiro e a brasileira a uma posição depois dos interesses dos partidos e da economia, lamentavelmente. Parece que eles pensam que é possível ter Ordem e Progresso, e até mesmo Brasil, sem mulheres e homens unidos sob o Amor que nos faz não temer a própria morte na construção de tão amado país.
A bandeira brasileira já mudou mais de dez vezes, do descobrimento à atual. Porém, enquanto os líderes não mudarem a consciência, o discurso e a prática que tanto dificultam a nossa cidadania constitucional, nossa emoção diante da Bandeira do Brasil nos fará sentir milhões de vezes a fome dos esfomeados; as dificuldades dos analfabetos; as intempéries dos sem-teto; a tristeza dos desempregados; a solidão dos idosos; a desesperança nos olhos das crianças; a desilusão da juventude; o luto dos que perderam seus entes amados na pandemia; as dores dos perseguidos por todas as formas de desrespeito, violência e racismo… Felizmente temos o voto para tal mudança, porque somos o mais belo e mais rico país do mundo, e continuaremos lutando para que em nossa pátria haja Amor, Ordem e Progresso.
Fonte – 010 – Moisés Selva Santiago