Estudo liga consumo de álcool a derrames mais graves e precoces

Da Redação — Para muitas pessoas, brindar com uma taça de vinho em um jantar ou abrir uma lata de cerveja durante um jogo é um gesto banal. Mas a fronteira entre o consumo social e o uso excessivo de álcool pode ser mais perigosa do que parece. Um estudo publicado em 5 de novembro na revista Neurology alerta que o hábito de ingerir regularmente três ou mais doses por dia está ligado a hemorragias cerebrais mais graves e ao surgimento precoce de danos neurológicos.

Segundo os pesquisadores, quem mantém esse padrão de consumo tende a sofrer derrames hemorrágicos, também conhecidos como hemorragias intracerebrais, em média 11 anos antes do que pessoas que bebem com moderação. Esse tipo de acidente vascular ocorre quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, provocando o extravasamento de sangue e lesões no tecido ao redor. Embora represente entre 15% e 20% dos casos de derrame, costuma ser o mais grave e incapacitante, de acordo com o neurologista Mitchell Elkind, diretor científico da American Heart Association. Ele explica que o outro tipo de derrame, o isquêmico, que corresponde a cerca de 80% dos episódios, é causado pela obstrução de um vaso, o que interrompe o fluxo de oxigênio e nutrientes e leva à morte das células cerebrais.

Nos Estados Unidos, 17% dos adultos declaram beber de forma excessiva e 6% mantêm um padrão considerado de alto risco, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Dados de 2024 apontam ainda que 29,7 milhões de pessoas com 12 anos ou mais apresentavam transtorno por uso de álcool, condição caracterizada por prejuízos físicos ou mentais provocados pelo consumo. O autor principal do estudo, M. Edip Gurol, neurologista vascular do Mass General Brigham, observou que os participantes que ingeriam, em média, três doses diárias tiveram suas hemorragias cerebrais uma década mais cedo que os demais.

Nos Estados Unidos, cerca de 795 mil pessoas sofrem um derrame por ano, e aproximadamente 10% desses casos são hemorrágicos. Embora o problema possa atingir qualquer faixa etária, o risco aumenta com o avanço da idade, especialmente depois dos 55 anos. Elkind ressalta que a hipertensão arterial é o fator de risco mais importante e que a prevalência da pressão alta cresce entre adultos jovens em razão da obesidade e do aumento dos casos de diabetes. Quase metade dos americanos — o equivalente a 119,9 milhões de pessoas — tem hipertensão, que pode causar dores de cabeça, sangramentos nasais e falta de ar.

O neurologista alerta também para o impacto do uso de substâncias ilícitas, como cocaína, metanfetamina e heroína, que elevam a pressão arterial e aumentam a probabilidade de sangramentos cerebrais. Tanto o álcool quanto os estimulantes, explica, podem provocar picos de pressão que favorecem o rompimento dos vasos sanguíneos. Além dos derrames, a hipertensão prolongada pode levar a doenças renais crônicas, cardiopatias e comprometimentos arteriais.

Gurol recomenda que pessoas com histórico de sangramento cerebral ou com alterações detectadas por exames de imagem, como micro-hemorragias, evitem completamente o álcool ou limitem o consumo a situações excepcionais — no máximo seis vezes ao ano e sem ultrapassar uma dose em 24 horas. A orientação principal, porém, é manter a pressão sob controle, já que ela é o principal gatilho para o derrame. Elkind reforça que a verificação regular dos níveis de pressão, seja em consultas médicas ou farmácias, é fundamental. Caso esteja elevada, deve ser controlada com mudanças de estilo de vida e, se necessário, com medicação.

A adoção de hábitos saudáveis, como caminhar regularmente, praticar exercícios aeróbicos e manter uma postura ereta e uma respiração consciente durante as atividades, ajuda a estabilizar a pressão arterial. Uma alimentação equilibrada, com redução do sal e inspiração na dieta mediterrânea, também contribui para a saúde do coração e do cérebro.

O estudo analisou 1.600 adultos internados no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, todos com diagnóstico de hemorragia intracerebral e idade média de 75 anos. As informações foram coletadas de forma retrospectiva, o que, segundo os pesquisadores, pode introduzir distorções — já que pacientes e familiares tendem a relatar hábitos de consumo de forma diferente após um evento grave. Ainda assim, os resultados reforçam a relação entre o uso contínuo de álcool e o envelhecimento precoce do cérebro. Para os especialistas, o alerta é claro: mesmo o hábito considerado moderado pode, com o tempo, ter um preço alto para a saúde vascular e neurológica.

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