*Por Maria Lindomar dos Santos
O ano era 1982, o recém criado estado de Rondônia estava em franco desenvolvimento, bem como o município de Cacoal, que já não era mais uma vila, e sim uma cidade pujante que a cada dia recebia numerosas famílias advindas de todos os estados do Brasil. O desenvolvimento era notório, a necessidade em construir novas casas, comércios, agências bancárias, hospitais, escolas eram visíveis. A população precisava de água tratada, energia, asfalto, escolas, igrejas, mas o povo sabia que em breve receberia tudo isso e muito mais. Era preciso trabalhar, unir forças para chegar à transformação.
As autoridades se desdobravam para atender a todos que se ajudavam de acordo com a demanda. O território federal de Rondônia fora transformado em estado um mês antes, o município contava com o terceiro prefeito nomeado pelo governador.
A Polícia Militar trabalhava com afinco e os bravos soldados estavam sempre alertas na proteção da população. Devido a necessidade em pavimentar as precárias ruas da cidade as autoridades decidiram se unir e agilizar o trabalho e assim diminuir um pouco da poeira.
O paralelepípedo como era conhecido o pavimento com pedras foi a solução encontrada. Em nome do progresso as máquinas da prefeitura chegavam até uma pedreira, situada na Linha 8, área rural do município, em seguida usavam dinamites para prepararem essas pedras que se encaixavam perfeitamente com areia e assim cobriam as ruas de Cacoal, dando ar de desenvolvimento a cada dia que se passava.
O trabalho era considerado normal pelos engenheiros da época. A responsabilidade em receber e estocar os explosivos ficou a cargo da Polícia Militar e o trabalho de explodir as pedras e calçar as ruas era da Prefeitura. Os corajosos soldados cuidavam do material com muita precisão e os incansáveis funcionários municipais trabalhavam com afinco imaginando o quão bonita ficaria a cidade toda pavimentada. O que não se esperava era que o amanhecer do dia 03 de fevereiro de 1982 seria diferente da rotina vivida pela cidade. Era quase 6h, os trabalhadores do turno da madrugada já estavam retornando à casa, e os madrugadores estavam a caminho do trabalho.
Do então 4º Pelotão da 2ªCompanhia do 1º Batalhão de Policia Militar de Cacoal, ouviu-se um barulho estranho, uma grande explosão que a princípio a população chegou a pensar em terremoto, por sentir a terra tremer. Muitos se assustaram e logo caminharam em direção ao som ensurdecedor.
Ao chegarem o local era cena de um filme de terror, pedaços de corpos espalhados por todos os lados a mais de cem metros. Impossível de se reconhecer. A cidade entristeceu. Foi literalmente “o dia que a cidade parou”. Não se falava em outro assunto, o quartel desapareceu, casas foram destruídas, mães choraram por seus filhos, filhos choraram por seus pais, namoradas, noivas choraram por seus parceiros, amigos choraram a perda irreparável de seus queridos.
O laudo da perícia afirmou que a explosão foi em consequência da combustão espontânea dos explosivos de dinamite, que eram guardados no interior do quartel – levando em consideração que os mesmos estavam estocados em local impróprio e com tempo excedido, do recomendado pelo fabricante.
Infelizmente não observaram as regras de segurança necessárias para estocarem material tão perigoso. Essa negligência resultou na morte de 10 militares e um civil. Aos militares 2o tenente PM Rui Luiz Teixeira, soldados Cerival Marcondes da Silva, Antonio Andrade Silva, José Carlos M. Bueno, Orlando Pereira Filho, Lucas Carlos de Oliveira Rocha, Noel Gonçalves de Souza, Antonio Braz de Sousa, Manoel Pessoa e Moacir Ferreira Mendes Filho e ao civil Zedequias Ferreira Domiciano. Nosso respeito.
Aos familiares nossos sentimentos.
*Maria Lindomar dos Santos. Pedagoga, professora de línguas inglesa
e italiana, escritora, moradora de Cacoal desde janeiro de 1981.
HOMENAGEM
Quarenta anos após uma das mais impactantes tragédias registradas na história de Cacoal, o vereador Romeu Moreira propôs e a Câmara Municipal aprovou, por unanimidade, uma merecida homenagem aos 11 homens que morreram na explosão do quartel da Polícia Militar, em 03 de fevereiro de 1982.
A Sessão Solene de Moção de Aplausos em homenagem às vítimas está marcada para o dia 03 de fevereiro de 2022, na Câmara Municipal de Cacoal, com início às 19h.