Operação foi descrita como a maior do país no combate à corrupção. Contudo, acumula polêmicas e debates sobre insegurança jurídica. Uma década depois, no saldo final, nenhum político permanece preso
Dallagnol se elegeu deputado, mas teve o mandato cassado pelo TSE – (crédito: Bruno Spada/Agência Câmara)
O rosto de Moro, inclusive, era o símbolo da Lava-Jato. Famoso, ele, no entanto, também acumulou polêmicas. Primeiro, foi declarado suspeito pelo STF nas ações que condenaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o resultado, as acusações contra o petista foram anuladas.
Em 2018, foi alvo de críticas por deixar a carreira como juiz federal para comandar o Ministério da Justiça durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Deixou a pasta envolvido em uma série de polêmicas e anunciou a pré-candidatura à Presidência da República. Depois, desistiu, trocou de partido e afirmou que seria candidato ao Senado pelo Paraná.
Outra peça-chave da Lava-Jato também deixou a carreira para se aventurar na política é o Deltan Dallagnol. Ex-coordenador e porta-voz da operação, ele se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens suas com o ex-juiz Sergio Moro e outros procuradores.
Dez anos depois, no saldo da operação, nenhum político permanece preso. Na avaliação do professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva, é preciso analisar os impactos negativos da Lava-Jato no país. “Ajudou a causar recessão econômica, foi pródiga na violação da lei e de direitos e garantias processuais e pavimentou o caminho para a ascensão da extrema-direita, inclusive antecipando algumas das táticas dos extremistas, como os ataques ao STF. Não por acaso, é nesse ponto do espectro político que estão seus principais protagonistas”, disse.
O cientista político e advogado constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo também destaca um saldo ruim da operação. “Várias empresas quebraram, tivemos problemas políticos gravíssimos. Serviu para alimentar o sentimento de antipolítica na população brasileira, agentes navegaram politicamente nessa operação e acabaram indo para o parlamento”, ressaltou.
Onde estão os principais personagens da Lava-Jato
Sergio Moro
Deixou a carreira no serviço público para integrar o primeiro escalão de ministros do governo Bolsonaro. Após deixar a pasta, foi eleito senador, mas corre o risco de ser cassado pela Justiça Eleitoral.
Deltan Dallagnol
Abandonou o Ministério Público para tentar carreira política. Foi eleito deputado pelo Podemos do Paraná, mas teve cassação confirmada em 2023, pelo TSE, por conta da Lei da Ficha Limpa.
Conhecido como o “Moro carioca”, teve diversas sentenças anuladas pela Justiça. Em 2023, foi afastado do cargo por ordem do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tem feito vídeos sobre direito, religião e autoajuda.
Alberto Youssef
Migrou para a prisão domiciliar em 2016 e, em 2017, para o regime aberto. No ano passado, por ordem do juiz federal Eduardo Appio, foi preso novamente. Em menos de 24 horas, o TRF-4 determinou a soltura do doleiro.
Rodrigo Janot
Ex-procurador-geral da República, ficou no cargo mais alto do MPF de 2013 a 2017. Chegou a cogitar uma candidatura nas eleições de 2022, mas desistiu.
Marcelo Odebrecht
Presidente da construtora Odebrecht, foi delator do esquema de empreiteiras que teriam dado propinas a centenas de políticos em troca de contratos com a Petrobras. Em 2021, teve o acordo de colaboração revisto pelo ministro Edson Fachin, do STF, que reduziu a pena de 10 anos para sete anos e meio. Em 2023, terminou de cumprir a condenação.
Deixou a Petrobras em março de 2014 após a polêmica sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Foi preso preventivamente em janeiro de 2015 e assumiu, em delação premiada, a cobrança de propina. Após deixar a cadeia no fim de 2016, passou a cumprir prisão domiciliar em Itaipava (RJ).
Paulo Roberto Costa
Foi o primeiro delator da Lava-Jato. Condenado a 12 anos de prisão, cumpriu parte da pena em regime domiciliar e parte em regime semiaberto. Morreu em agosto de 2022, aos 68 anos.
Renato Duque
O ex-diretor da Petrobras foi um dos primeiros alvos do alto escalão estatal. Estava preso desde 2015, mas foi solto em março de 2020.
João Vaccari Neto
Ex-tesoureiro do PT, chegou a ser condenado e preso por suposta corrupção na arrecadação de campanhas petistas. Em janeiro, Fachin anulou a condenação de 24 anos de prisão, por reconhecer a incompetência da 13ª Vara de Curitiba para processar e julgar o caso.
O ex-presidente da OAS teve um papel importante na condenação de Lula pelo caso do tríplex do Guarujá, processo que o levou à prisão. Ele afirmou que o petista teria usado sua influência para fechar negócios em troca de propina. No entanto, em 2021, escreveu uma carta recuando sobre as acusações feitas. Está em prisão domiciliar desde setembro de 2019.
Fonte: Correio Braziliense