Meio século após o fim de um conflito devastador que deixou grande parte da nação em ruínas, o Vietnã se destaca como um dos destinos mais populares da Ásia.
O mês de abril de 2025 vai marcar o 50º aniversário de quando o governo de Saigon se rendeu às forças norte-vietnamitas, encerrando décadas da Guerra do Vietnã.
De muitas maneiras, a nação continua lutando contra esse período sombrio e os efeitos persistentes em sua paisagem e seu povo.
No entanto, novas gerações de cidadãos vietnamitas estão agora trabalhando para se livrar do passado devastado pela guerra e revelar a beleza do país e a herança cultural única para o mundo.
Desde 1997, quando o país foi aberto aos turistas, o Vietnã se tornou um dos destinos mais populares do sudeste asiático.
Reconhecido por seus deliciosos mercados de comida de rua, cidades vibrantes, mistura única de arquitetura colonial francesa e paisagens naturais deslumbrantes, de selvas exuberantes a picos irregulares, a nação está atualmente vivenciando uma onda de visitantes estrangeiros e está a caminho de um ano recorde.
No episódio mais recente do programa The Travel Show, da BBC, o apresentador vietnamita-americano William Lee Adams viajou pelo país em uma jornada emocionante para se reconectar com o país de origem de sua mãe e depositar as cinzas de seu irmão na movimentada metrópole de Ho Chi Minh (antiga Saigon), onde sua família tem um túmulo.
Ho Chi Minh (antiga Saigon) foi de certa forma o epicentro da Guerra do Vietnã nas décadas de 1960 e 1970, pois serviu como sede das operações militares dos EUA na região.
No entanto, a história da cidade remonta a pelo menos 300 anos antes deste conflito, e seu passado é refletido nos templos e pagodes ornamentados, mercados noturnos vibrantes e mistura de influências asiáticas e europeias encontradas nesta metrópole de nove milhões de pessoas.
Como em grande parte do Vietnã, a comida é um grande atrativo para os viajantes.
Pratos de comida de rua como bot chien (bolos de farinha de arroz fritos servidos com mamão, cebola e cebolinhas) encontrados em lugares como o histórico Mercado Bến Thành são populares, assim como restaurantes mais sofisticados, como o Akuna, com estrela Michelin.
“O mercado e a comida em geral são como o coração da cultura vietnamita”, disse a guia turística e criadora de conteúdo Lylla ao Travel Show. “A comida é muito importante.”
Trauma oculto
Além dos mercados, a Cidade de Ho Chi Minh é uma mistura de influências vietnamitas, francesas e internacionais.
A ornamentada Saigon Opera House, construída pelos franceses, inaugurada em 1898, é um lembrete do passado colonial da cidade, enquanto a mais contemporânea Lotus Gallery (uma das primeiras galerias de arte privadas da cidade) exibe o trabalho de artistas vietnamitas modernos e de outros artistas do sudeste asiático.
Uma coisa sobre a qual você não encontrará muita menção na cidade de Ho Chi Minh é o conflito armado.
Na verdade, muitos moradores locais relutam em falar sobre o que é conhecido localmente aqui como a “guerra americana”.
“O discurso oficial é: ‘nós vencemos a guerra, então não há trauma'”, disse Nguyễn Phan Quế Mai, um autor vietnamita, à BBC.
“É por isso que senti a necessidade de documentar o trauma oculto… que foi deixado de lado, não reconhecido.”
Mesmo assim, há vários lugares onde os visitantes podem ir para aprender sobre o impacto que a guerra teve na cidade e no interior do país.
O ‘War Remnants Museum” (museu dos resquícios da guerra, em inglês) preserva artefatos importantes e educa os visitantes sobre as consequências da guerra, enquanto os túneis de Chu Chi mostram as dificuldades que os soldados vietnamitas enfrentaram durante o conflito.
A cidade de Ho Chi Minh é conectada à parte norte do país pela ferrovia Norte-Sul, frequentemente chamada de “Expresso da Reunificação”.
O trem, criado em 1899, viaja mais de 1.700 km da Cidade de Ho Chi Minh a Hanói em uma única via.
Ele foi bombardeado várias vezes durante a Guerra do Vietnã para cortar as conexões importantes entre o norte comunista e o sul do país controlado pelos EUA.
Hoje, o passeio é uma ótima maneira de ter uma visão de algumas das paisagens mais bonitas do país, enquanto passa pelas águas azuis de tirar o fôlego das praias de Nha Trang e pelas selvas da cordilheira Annamite.
O trem também faz paradas em várias cidades turísticas populares, como Da Nang e Hoi An, antes de chegar ao seu destino final, a capital histórica de Hanói.
A capital do norte comunista, Hanói foi fundada em 1009 d.C. como a cidade imperial da Dinastia Ly.
Depois, em 1873, a cidade passou a ser capital da colônia controlada pelos franceses e continua sendo a capital do Vietnã hoje.
O histórico diversificado da cidade se reflete em sua arquitetura, particularmente no Bairro Antigo da cidade, com sua mistura de arquitetura colonial vietnamita e francesa.
Para um mergulho profundo no passado internacional de Hanói, visite a Cidadela Imperial de Thang Long, um Patrimônio Cultural da Unesco que remonta ao século 7. O local oferece visitas guiadas abrangendo quase 1.300 anos do passado do Vietnã.
Além de ser a capital legislativa do Vietnã, Hanói também é considerada a capital cultural do país e abriga uma cena artística e educacional próspera.
Por exemplo, o que agora é conhecido como Templo da Literatura já serviu como a primeira universidade do Vietnã. Os alunos ainda vão ao local para rezar por boas notas.
A cidade também ostenta galerias de arte contemporânea e museus, como o Museu Nacional de Belas Artes do Vietnã e a Galeria do Estúdio de Hanói.
Nenhuma visita a Hanói está completa sem uma parada no Mercado Dong Xuan, um dos maiores e mais antigos do país.
É um ponto de encontro comunitário de dois andares onde moradores e viajantes de todo o mundo vêm para comprar pratos fritos locais, souvenirs, temperos e até animais de estimação.
“Todas as vezes que fui ao Vietnã, tive essa sensação de que ‘algo agora está completo'”, disse Adams no final de sua jornada. “Mas, na verdade, vejo essa viagem como a abertura de um novo capítulo.” (BBC)