O governo vai apresentar na semana que vem um modelo para ser usado por Estados nas avaliações sobre a possibilidade de saída do isolamento social do coronavírus, disse nesta quarta-feira o ministro da Saúde, Nelson Teich, mesmo diante de alertas da própria pasta de que o país caminha para o pico tradicional de hospitalizações por doenças respiratórias.
Na primeira entrevista coletiva no Palácio do Planalto desde que assumiu o cargo na semana passada, Teich afirmou que o modelo já possui uma matriz pronta e deve incluir todas as variáveis possíveis, com projeções de curto prazo, pois “é impossível” estimar a situação no longo prazo, afirmou.
O ministro acrescentou que o governo atuará em cada região do país da forma que considerar mais adequada para a área, e citou que os governantes serão orientados a também recuarem das medidas de afrouxamento em determinadas situações. Teich não apresentou um calendário para a implementação das medidas.
“O afastamento é uma medida absolutamente natural e lógica na largada, mas ele não pode não estar acompanhado de um programa de saída, isso é o que a gente vai desenhar”, afirmou.
O anúncio sobre os parâmetros para o relaxamento das medidas de contenção social —uma das razões da queda do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que era defensor do isolamento apesar da oposição do presidente Jair Bolsonaro— ocorreu apesar de diversos Estados estarem com seus sistemas de saúde em dificuldade.
Além disso, espera-se para o final de maio o pico das internações por doenças respiratórias no país, de acordo com dados dos últimos anos.
Segundo documento do próprio Ministério da Saúde, no ano passado, quando não havia Covid-19, o pico das hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) deu-se na semana epidemiológica de número 22, entre os dias 27 de maio e 2 de junho, quando o país ultrapassou a marca de 2 mil hospitalizações por síndromes respiratórias.
Segundo Teich, o governo decidiu estudar as medidas para saída do isolamento uma vez que não está acontecendo um “crescimento explosivo” da doença no país. Ele ressaltou que diversos aspectos serão levados em consideração, como disponibilidade de leitos, número de profissionais e disseminação do vírus.
“A situação é difícil, a situação é complexa, mas com certeza a gente tem condição de passar por ela, e, além disso, deixar o Brasil com o sistema de saúde mais forte para o pós-Covid”, afirmou.
Teich também afirmou que não existe “teste em massa” da população, e citou como exemplo que a Coreia do Sul conseguiu conter a doença com proporcionalmente menos da metade dos testes do que a Itália, que enfrenta o pior surto na Europa. Segundo ele, mais importante do que a quantidade de testes, é o uso adequado dos mesmos.
“O que você tem que fazer quando usa o teste é mapear a população de tal forma para que a sua amostra reflita a população. A sabedoria de ter o dado, interpretar o dado e tomar ações a partir disso vai fazer toda a diferença”, disse o ministro, que ressaltou que se sabe muito pouco sobre a Covid-19 e que, por essa razão, o poder de decidir é menos sólido e pequeno.
Segundo o ministro, também é fundamental que, por mais que se foque na Covid-19, não se esqueça das outras doenças. Ele citou que as pessoas estão morrendo de enfarte em casa por medo de irem a hospitais, e destacou que hospitais estão perdendo muita movimentação por doentes que não tenham coronavírus.
Teich disse que se hospitais estiverem despreparados para uma demanda reprimida de pessoas que não tenham Covid-19, o país vai ter outro problema em breve.
(Fonte: Reuters).