O quartel ficou demolido
Neste 3 de fevereiro se completam 40 anos do acidente com explosivos ocorrido no quartel da Polícia Militar em Cacoal, tragédia que deixou 11 mortos e marcou a história da cidade.
Com nove anos de idade na ocasião, o jornalista e atual vereador da capital, Everaldo Fogaça, lembra do episódio como se tivesse acontecido recentemente.
“Foi uma enorme comoção na cidade, que era pequena ainda, com cerca de treze mil habitantes. Não houve quem ficasse indiferente a tragédia, que por muito tempo deixou os moradores de Cacoal triste e pesarosos”, disse Fogaça.”Eu era menino ainda, mas foi impossível ficar indiferente ao que aconteceu, pela quantidade de vítimas e pelo quanto isso afetou nossa cidade e o povo. Eu me lembro do sepultamento das vítimas, que aconteceu num dia muito chuvoso, como se o céu também chorasse pelos nossos mortos”, relembrou.Fogaça revelou que a única vítima civil do incidente foi um rapaz que havia casado apenas uma semana antes de morrer, e tinha de passar em frente ao quartel no caminho ao trabalho. “Naquela manhã ele estava no lugar errado, no momento errado”, lamentou o jornalista, que aproveitou a oportunidade para reiterar suas condolências aos cacoalenses e às famílias das vítimas.
O desastre:Na manhã do dia 3 de fevereiro de 1982, por volta da 5h45m, houve uma grande explosão no até então, 4º Pelotão da 2ª Companhia do 1º Batalhão de Policia Militar de Cacoal, que resultou na morte de 10 militares e um civil. Até hoje, ainda existem divergência quanto às causas do acidente.
Entre as versões para a explosão, a mais forte é de que um curto circuito em um transformador que ficava ao lado do quartel, teria causado a explosão da dinamite que pertencia a Prefeitura, mas, que por medidas de segurança estava sendo armazenado no quartel. Populares chegaram a denunciar que a detonação tivesse sido criminosa. Sendo que ambas as versões foram descartadas pela perícia.
O inquérito se constitui em um relato dolorido e imagens fortes dos pedaços das vítimas que tiveram seus corpos estraçalhados pelo forte impacto da explosão. Algumas das vítimas tiveram apenas partes dos corpos localizadas, e outras nem chegaram a serem encontradas.
De acordo com o laudo da perícia, a explosão foi em consequência da combustão espontânea dos explosivos de dinamite, que eram guardados no interior do quartel – levando em consideração que os explosivos estavam estocados em local impróprio e com tempo excedido, do recomendado pelo fabricante. Ou seja, o armazenamento de explosivos não tinha observado as regras de segurança.
Dinamites
A Prefeitura de Cacoal era administrada pelo engenheiro, Clodoaldo Nunes de Almeida. O município vivia um período de grande desenvolvimento. Muitos eram os investimentos que estavam sendo feito, tanto pela população, quanto pelo poder público. Para minimizar os problemas com a falta de pavimentação asfáltica, foi adotado o sistema de pavimentação por meio de pedras arrumadas.
As pedras eram retiradas de uma pedreira existente na Linha 08, área rural do município. Os explosivos que a Prefeitura usava para quebrar as pedras estavam sendo armazenados no quartel. O material pertencia a Prefeitura, mas por medidas de segurança foram armazenados no quartel. Na época, os trabalhos de calçamento da cidade eram uma das maiores expectativas da população, até a explosão do quartel obrigou as autoridades a descartar a construção de ruas e avenidas com pedras.
O diaLogo cedo, a população de Cacoal foi acordada com barulho de uma explosão forte, e que foi sentido por muitas pessoas, como a historiadora e professora, Lurdes Kemper. “No dia, eu estava dormindo na casa da minha irmã, quando fomos acordadas pela explosão. Estávamos aproximadamente há uns mil metros do local, mas sentimos o tremor”, lembra a professora.
Kemper ainda se recorda do grande pânico que tomou conta da cidade. “ Todos estavam muito abalados. Nós víamos pedaços de pessoas há mais de cem metros do local. Foi uma tragédia, lamenta.
As vítimas:
2º tenente PM Rui Luiz Teixeira, soldados Cerival Marcondes da Silva, Antonio Andrade Silva, José Carlos M. Bueno, Orlando Pereira Filho, Lucas Carlos de Oliveira Rocha, Noel Gonçalves de Souza, Antonio Braz de Sousa, Manoel Pessoa e Moacir Ferreira Mendes Filho, além do civil Zedequias Ferreira Domiciano.
Para lembrar as vítimas da explosão, a Polícia Militar construiu um memorial no local, onde funcionava o quartel que foi explodido.
(Texto: ALÔ RONDÔNIA, com informações da Polícia Militar do Estado de Rondônia).