Cacoal/RO, 2 de maio de 2024 – 11:08
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2 de maio de 2024 – 11:08

Coluna do Xavier – CACOAL:   AS PICANHAS, AS ABÓBORAS E AS METRALHADORAS..

Por Francisco Xavier Gomes

CACOAL:   AS PICANHAS, AS ABÓBORAS E AS METRALHADORAS…

 

O estado de Rondônia não é o estado com o maior percentual de adeptos do bolsonarismo no país. Nós ocupamos oficialmente a segunda colocação, atrás do estado de Roraima. Estes números são os dados oficiais do segundo turno das eleições de 2022. O terceiro colocado foi o estado do Acre. Essas são as três unidades da federação nas quais o ex-presidente ultrapassou a marca de 70% de votos, chegando a 76% em Roraima. Por essas razões, não se pode esperar que o atual Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, convença roraimenses, acrianos e rondonienses a fazerem elogios à gestão do petista. Este fenômeno é perfeitamente compreensível e deve ser respeitado, porque os fundamentos da democracia exigem de todos os brasileiros que respeitem os resultados do sufrágio popular. Esse respeito prevê, inclusive, a aceitação das figuras de linguagens utilizadas pelo candidato vencedor do pleito, porque os ressentimentos não possuem a força necessária para mudar os resultados da eleição. Além disso, o apego excessivo à literalidade, nos discursos políticos, por parte do eleitor, empobrece o universo vernacular…

O presidente Lula declarou, durante todo o período de campanha, que tinha o sonho de ver o brasileiro voltar a comer picanha e tomar uma cervejinha, nos fins de semana. Não há nenhum brasileiro que não conheça esse discurso do petista; mas infelizmente há milhares de brasileiros que jamais entenderam o que Lula disse. Por essa razão, é muito comum, aqui em Rondônia, ouvir pessoas contrárias aos resultados das urnas cobrando, diariamente, a picanha literal, após a posse de Lula. Pouco depois de tomar posse, o presidente declarou, em uma feira de alimentos, que a abóbora é um alimento importante e que o governo dele vai estimular a produção de alimentos. Na ocasião, Lula deixou bem claro que há muitos outros legumes e verduras cujo cultivo deve ser incentivado, para aumentar a capacidade do país de produzir alimentos. Mais uma vez, os brasileiros que preferem alimentar o ódio, em vez de alimentar pessoas, reagiram e saíram dizendo que Lula negou a picanha prometida em campanha e sugeriu que, agora, a população tem que comer somente abóboras. Que raciocínio frágil! Será que as pessoas perderam a capacidade de entender uma informação tão simples? A grande massa populacional não tem nenhuma obrigação de dominar os hipérbatos ou sinestesias, mas a metáforas, prosopopeias e metonímias são coisas do cotidiano de qualquer pessoa…

Um exemplo da falta de compreensão foi quando o ex-presidente prometeu “metralhar a petezada do Acre”. É evidente que ele não sugeriu matar a população! O verbo metralhar é um vocábulo do universo polissêmico. O Ministro Flávio Dino tem metralhado, todos os dias, os fascistas que o atacam nas comissões temáticas do Congresso Nacional. Ao citar a abóbora, poucos dias atrás, o presidente Lula apenas usou um recurso linguístico absolutamente comum no nosso idioma. Aliás, ele fez isso exatamente no dia em que anunciou a reedição do Programa de Aquisição de Alimentos (PPA), um programa que tem como finalidade estimular a agricultura familiar, promover a produção de alimentos e inserir o pequeno produtor no mercado. Esse programa tinha sido extinto pelo governo que antecedeu Lula e a volta do PPA é fundamental. Através do PPA, os alunos de todas as escolas públicas podem comer alimentos mais saudáveis, o pequeno produtor garante a renda da família e o mercado é aquecido. Não há razão plausível para condenar a produção de alimentos. Um estado como Rondônia, onde a agricultura familiar representa a maior parcela da produção de riquezas, não pode se colocar contra a produção de alimentos, apenas para justificar rancores eleitorais. Isso é uma ideia inaceitável…

Além do lançamento da nova edição do Programa de Aquisição de Alimentos, nesses primeiros cinco meses de governo, Lula da Silva já anunciou diversas outras picanhas e abóboras que não podem ser ignoradas, porque são picanhas e abóboras visíveis e palpáveis. Para citar algumas delas, podemos lembrar que os combustíveis estão muito mais baratos; os valores para custear a pesquisa científica no país foram aumentados; os valores para a merenda escolar foram aumentados; o Bolsa Família foi mantido; o programa de construção de casas populares foi recriado; o programa Mais Médicos voltou… Esses fatos não podem ser ignorados, porque representam, de fato, alguma coisa concreta para a população mais pobre. Os brasileiros que defendem apenas as picanhas e abóboras na mesa dos donos de bancos e das empresas gigantes do mercado têm todo o direito de fazê-lo, porque ninguém está impedido de torcer a favor dos bilionários do mercado. Mas não aceitar as picanhas e abóboras dos menos favorecidos é querer o extermínio da população que ganha um salário mínimo. Essa parcela de brasileiros que ganha um salário mínimo é tão gigante quanto os lucros dos bilionários…

Assim, vou seguir defendendo as abóboras e picanhas, literais ou metafóricas, propostas e cumpridas por Lula. E não o farei apenas por causa dos múltiplos nutrientes e benefícios para o organismo humano. Essas picanhas e abóboras estão todas consagradas no Art. 3º da Constituição Federal de 1988. Os brasileiros que desejam seguir com a fome da desinformação têm o direito de agir assim; mas o Brasil precisa de picanhas e abóboras permanentemente, para que possamos tentar sonhar com um país, cada vez mais, distante da possibilidade de ter à mesa apenas metralhadoras, fuzis, pistolas e munições… Tenho dito!!!

 

 FRANCISCO XAVIER GOMES

Professor da Rede Estadual e Jornalista

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