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14 de outubro de 2024 – 07:50

Quantas saudades da professorinha – Por Paulo Cordeiro Saldanha

O escritor Paulo Cordeiro Saldanha* tem 11 livros publicados

“Que saudade da professorinha/Que me ensinou o beabá”. Verso de música que é recorrente para homens e mulheres de várias gerações. É de Ataulfo Alves de Sousa, nascido em 2 de maio de 1909 na Fazenda Cachoeira, no município de Miraí, Estado de Minas Gerais.

Quem não se lembra da primeira professora, lembrada e relembrada pela doçura ou pela firmeza como gerenciava a sua turma. Quem perdeu de vista a professorinha do beabá, que, ante a insegurança de um momento, lhe enxugou uma lágrima furtiva ou um choro convulsivo?

Ninguém!

Quem de nós não é remetido para um tempo chamado saudade ao recordar do instante, sublimes segundos, abençoados minutos, em que a meiguice do olhar, a paciência no ensinar, a intensidade da ternura ao afagar, quando a mão e os braços da primeira mestra substituíam o carinho maternal.

Sentada ao lado, pacientemente, a professorinha, após dedicar sua atenção a outro colega, dirige o seu foco maior, de forma abnegada, altruísta, carinhosa e afetuosa, na tentativa de ensinar e transformar, educando e socializando aquele pequenino ser, futura estrela no firmamento universal.

Depois, com a conquista dos primeiros aprendizados, chega a hora das cantigas de roda, dos hinos, do teatro e das músicas mais a altura do entorno, onde aquele pequenino cidadão transitava, já orgulhoso pela descoberta da importância de ser aluno daquele Colégio, o primeiro das suas boas lembranças e pupilo da professorinha que lhe vai ensinando o beabá.

E o tempo, jamais, apagará as recordações daqueles instantes em que, depois dos ensinamentos colhidos no lar, lhe valeram como os princípios mais intensos na formação do caráter, para a descoberta dos valores por conta da vida em sociedade, quando se convive com as diferenças, sejamos nós pobres ou ricos, brancos ou negros, católicos, budistas, espíritas, evangélicos ou professadores do islamismo.

Vai daí que Deus como fonte da criação, o civismo, a lealdade aos companheiros e à Escola, a orientação para que os alunos façam da leitura de livros um instrumento para crescer e evoluir, entre outras mensagens sejam descobertas e não se percam nas estradas da vida.

É imperioso que as famílias modernas ensinem aos pequeninos que devotar respeito e gratidão ao Mestre é reverenciar, até por uma espécie de culto, o grande responsável, numa primeira hora, pelo aprimoramento daquele ser tão pequenino, um Ente racional, cujas virtudes devem ser enaltecidas como forma de valorização do individuo como integrante da comunidade que o acolheu como membro e cidadão.

Particularmente entendo que devemos ao Mestre, ao Professor ou Professora a mesma reverência com a qual nos valemos para dignificar o Magistrado. O primeiro nos prepara para a vida, o segundo tende a corrigir as injustiças com que a vida nos surpreende.

E o importante é que, em relação a professorinha, lá no cantinho das nossas mais intensas recordações, acalentemos o direito de guardar as lembranças de um tempo recheado de tão vivas e gratificantes reminiscências, mercê da gratidão acalentada, em face da revolução que se traduziu em amadurecimento e lições que durarão a vida toda.

Afinal, ela não ensinava só o beabá; posso até afirmar que, sem tomar ciência do efeito multiplicador e irradiador da sua messe, ela distribuía, em consequência, doutrinas, preceitos, exemplos, relevantes informações, mandamentos e lições, enfeixando no ideário do progresso dos pequeninos alunos, dando rumo ao crescimento como gente, numa amálgama criteriosa que concorre para a conquista de novos espaços, novas vitórias, em que uns se transformavam em líderes, outros em liderados.

Mas, via aprendizado recolhido, todos se tornavam vencedores!

E ai me valho dos versos que o Mestre Ataulfo Alves nos deixou: “Eu daria tudo que eu tivesse/Pra voltar aos dias de criança/Eu não sei pra que que a gente cresce/Se não sai da gente essa lembrança”.

A professorinha, é possivel, que alguns a tenham transformado até na idealizada  e imaginária primeira namorada…

“Onde andará Mariazinha, Meu primeiro amor, onde andará? Quanta travessura que eu fazia/Jogo de botões sobre a calçada/Eu Igual a toda meninada/era feliz e não sabia…”

 

*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER

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