Cacoal/RO, 11 de maio de 2024 – 18:45
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11 de maio de 2024 – 18:45

Coluna do Xavier – CACOAL:  A EDUCAÇÃO, O MULTISSERIADO E A VOLTA AOS ANOS 80…

Por FRANCISCO XAVIER GOMES

 

CACOAL:  A EDUCAÇÃO, O MULTISSERIADO E A VOLTA AOS ANOS 80…

 

A população rural do município de Cacoal representa, sem dúvida, uma garantia de que o município possui grande potencial para a produção. Assim, este segmento da população precisa ser tratado com muito respeito, porque nenhuma cidade e nenhum estado consegue crescer, sem uma agricultura forte e capaz de produzir alimentos com a qualidade necessária para a certeza de uma população mais saudável. Entretanto, não se pode pensar em uma produção rural sólida, quando a classe política do município e as autoridades submetem as pessoas que vivem no campo a situações e condições completamente desfavoráveis, como é a realidade de Nossa Urbe Obediana. A Secretaria de Educação de Cacoal se prepara para implantar nas escolas rurais da cidade, já na próxima semana, o sistema de ensino conhecido como multisseriado, medida que tem forte potencial para promover a queda da qualidade do ensino e da aprendizagem, em virtude de vários fatores. Esse modelo de ensino é praticado somente em municípios onde o sistema de educação é muito precário…

Inicialmente, é necessário esclarecer que Cacoal é uma das principais cidades da Amazônia e possui uma qualidade de vida acima de milhares de municípios do Brasil. Além disso, é dos mais promissores polos do ensino universitário no estado de Rondônia. Estes fatos exigem de Nossa Urbe Obediana uma infraestrutura da rede municipal de ensino com a qualidade adequada, para a formação da sociedade e de profissionais qualificados para o exigente mercado de trabalho. Uma cidade com o perfil de Cacoal não pode se dar o luxo de implementar políticas educacionais que evidenciem a fragilidade e a precariedade na educação, porque isso pode levar diversos outros municípios ao caos educacionais. A implantação do ensino multisseriado em Cacoal certamente vai puxar a qualidade do ensino para baixo, fenômeno completamente oposto às promessas de campanha feitas pelo atual alcaide em 2020. É possível que o prefeito tenha esquecido o Plano de Governo que apresentou à cidade, no período de campanha, ou que jamais tenha lido tal documento, mesmo porque ele chegou a declarar em um debate que “plano de governo não tem importância e que tinha na cabeça o que faria na cidade”. O problema, como ensina o professor José Geraldo, está na cognição…

Em um dos itens do Plano de Governo do prefeito, está escrito que sua administração iria oferecer à população de Cacoal a “garantida de aprendizagem adequada em cada série”. Entretanto, o sistema multisseriado, é aquele em que alunos de várias séries diferentes são colocados na mesma sala. Esse modelo de ensino é praticado somente em situações muito precárias, em cidades pobres e nas quais o acesso é muito difícil. Algumas dessas escolas multisseriadas são localizadas em vilas ribeirinhas, onde são necessários dois ou três dias para chegar de barco. O estado do Amazonas, por exemplo, tem algumas dessas escolas. Um dos motivos para a implantação desse modelo de ensino é a falta de professores, aliada à falta de planejamento, à ausência de concurso público para professores e o natural desprezo ou descaso com as pessoas que vivem no setor rural ou ribeirinho dos municípios. Pouca gente deve lembrar, inclusive o prefeito e o secretário de educação do município, mas, nos primeiros meses deste ano, eles fizeram muita confusão na cidade, alegando que precisavam aprovar um teste seletivo para resolver os problemas da educação. Não se resolvem problemas da educação misturando alunos de séries diferentes na mesma sala. Essa prática era comum em Rondônia nos anos 70 e 80, quando não havia professores formados no estado, em número suficiente para atender às demandas. Se este modelo tivesse qualidade, seria a regra nas escolas do Brasil; não a exceção…

O prefeito, o secretário da educação e essa meia dúzia de vereadores que bajulam a Administração Municipal não devem ter percebido, mas, na gestão atual, a educação tem sido vítima de várias mazelas. Este ano, por exemplo, as aulas na zona rural começaram bem mais tarde, as férias do meio do ano foram antecipadas pela falta de merenda e transporte escolar e, agora, o prefeito resolve mudar o sistema de ensino no meio do andamento de um bimestre. Esses fatos, aliados aos dois anos de pandemia, nos quais os alunos tinham aulas remotas, vão causar prejuízos que ninguém consegue avaliar. Isso tudo com as bênçãos e os diários parabéns dos vereadores que foram eleitos para defender as escolas públicas e a qualidade da educação. E não se pode olvidar da completa conivência dos dirigentes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cacoal, que publica notas de repúdio contra vereadores que se insurgem contra as mazelas da administração, mas que se cala diante da implantação de um modelo de ensino que vai prejudicar os alunos e as famílias. Um sindicato que defende professores também tem o dever de defender uma educação decente para as crianças. Aliás, há dois anos e oito meses que o sindicato ameaça fazer greve, mas dificilmente adotará alguma medida para barrar esse modelo de ensino precário e oferecido apenas por políticos que não têm nenhum compromisso com a formação das crianças.

Em Cacoal não há professores com formação para o ensino multisseriado. Esse modelo de ensino exige professores que são tudo na escola, muitas vezes até merendeiras. No sistema multisseriado, os professores têm muito menos tempo para dar atenção aos alunos, porque não é simples atender realidades diferentes. O cenário tem tudo para devolver a educação de Cacoal aos anos 70 e 80 e para expulsar muitas famílias do campo. A Cacoal que seria transformada num paraíso, na campanha eleitoral, caminha, a passos largos, para o caos, realidade lamentável… Tenho dito!!!

 

FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista

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