Cacoal/RO, 18 de abril de 2024 – 00:08
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18 de abril de 2024 – 00:08

Um pouco da história política recente de Rondônia (III)

Por Lúcio Albuquerque, repórter, membro da Academia de Letras de Rondônia

Sobrinho do líder da criação do Território na fronteira. Paulo Saldanha garante: fraude na eleição de 1946 (F. Newsrondonia.com)

 

Presidente Getúlio Vargas veio a Porto Velho em 1940 e mudou a proposta inicial do Território. (F. Esron Menezes/Lúcio Albuquerque

Vou retornar a um fato político nessa proposta de contar “um pouco” da nossa história política. A narrativa envolve várias partes, a primeira remonta à criação do território Federal do Guaporé, passa pela primeira eleição de deputado federal do Território, em 1946, quando só era eleito um deputado, até à cassação, em 1964, do deputado federal Renato Medeiros.

Ouvi, de alguns atores, lamentavelmente já falecidos, versões distintas sobre as razões de não ter sido o coronel Aluízio Ferreira, primeiro governador do Território (1944/46) o candidato único, e do coronel Paulo da Cruz Saldanha ter-se lançado à disputa.

Líder inconteste da região dos rios Guaporé e Mamoré, com muitos e bons serviços prestados àquela faixa da fronteira brasileira, Paulo da Cruz Saldanha em 1937 encabeçou um documento ao presidente Getúlio Vargas para criar um Território Federal, com capital em Guajará-Mirim, abrangendo da cidade de Santo Antônio até Vila Bela da Santíssima Trindade, tudo região do Estado de Mato Grosso.

Em 1940 o presidente Vargas vem a Porto Velho para visita de 3 horas e fica quase 3 dias, quando foi alvo de muitas homenagens, bailes, etc, e em 1943 decreta a criação de um Território na região, estendendo sua área ao município amazonense de Porto Velho, por pedido de Aluízio Ferreira (*), o que irritou as lideranças da fronteira.

Na eleição a deputado federal em 1946, ainda assim, Aluízio seria candidato único, até porque não havia outra liderança capaz de contrapor, conforme o jornalista Euro Tourinho. Esron e Abnael Lima, historiador, contavam o mesmo fato. Mas houve problemas, lembravam Euro, então com 24 anos e Abnael, este narrando como ouvira de seu pai, com 14.

Em 1946 o político paulista Ademar de Barros veio em campanha e numa reunião Ademar precisou assinar um documento, mandando que um morador local virasse de costas, colocou o papel em cima e assinou, o que provocou críticas de algumas lideranças.

Mesmo assim Aluízio em 1946 era candidato único. Confirmado como pré-candidato, Aluízio teria ido para o Rio de Janeiro esperar apenas o dia da sua posse, certo de que estava eleito, nem campanha precisava fazer.

Os três fatos: o fato de Aluízio ter conseguido que o Território não fosse criado como os comerciantes de Guajará requereram; a “indelicadeza” de Ademar e Aluízio ir embora alegando já estar eleito, acabaram fazendo com que o coronel Paulo da Cruz Saldanha fosse lançado candidato, além das turbulências então existentes entre Aluízio e o governador indicado por ele, Joaquim Vicente Rondon.

Abertas as urnas, Aluízio foi eleito, mas, principalmente em Guajará-Mirim, o sentimento é de que aconteceu na contagem o primeiro caso de fraude – o que o escritor Paulo Cordeiro Saldanha, descreve em seu livro “O Alferes e o Coronel”.

Sim ou não, a partir de então o Território passou a ter dois lados políticos, o que gerou sdeis anos depois dois grupos, um chefiado por Aluízio, grupo depois chamado “cutuba” e outro, liderado por Joaquim Rondon, chamado “pele curta”.

Aluízio derrota Rondon na eleição de 1950, perde de Rondon em 1954, vence em 1958 e em 1962 um indicado seu perde do “pele curta” Renato Medeiros, seu ex-aliado mas, conforme se comentava, em 1964 através de suas amizades militares, Aluízio teria se vingado, ao conseguir a inclusão do desafeto na lista de cassação.

Em 1967, quando o AI-2 acabou com o pluripartidarismo, ficando dois partidos, a Arena, governista, e o MDB, um conglomerado de oposições.
(*) Historiador Esron Menezes, presente aos encontros de Aluízio com Vargas.

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