Cacoal/RO, 5 de maio de 2024 – 05:23
Search
Search
5 de maio de 2024 – 05:23

Coluna do Xavier – CACOAL:  RONDÔNIA, AS HOMENAGENS LITÚRGICAS E AS MULHERES…

Por Francisco Xavier Gomes

 

CACOAL:  RONDÔNIA, AS HOMENAGENS LITÚRGICAS E AS MULHERES…

O debate relacionado com todos os problemas, conflitos e aflições da população brasileira não pode ser deixado de lado, porque  justamente essa possibilidade  nos leva a reflexões permanentes, objetivando que encontremos os caminhos para diminuir as desigualdades sociais; as injustiças; a falta de fraternidade e solidariedade; o ódio aleatório; a discriminação; o preconceito; a violência e outros males que atingem frontalmente uma sociedade doentia. E hoje é um dia para muitas reflexões, especialmente para os rondonienses, já que nosso estado figura nas listas dos estados com os maiores índices de violência contra a mulher no Brasil. É claro que, neste Dia Internacional da Mulher,  muitas homenagens serão feitas em todos os municípios do estado, e grande parte dessas solenidades de exaltação à mulher partirão de pessoas que dão enorme contribuição para que nossos índices negativos aumentem a cada ano. Obviamente que todas as homenagens são justas e necessárias, porém precisamos avançar e muito…

Nos últimos anos, uma quantidade alarmante de mulheres rondonienses foi assassinada, APENAS PELO FATO DE SEREM MULHERES... E por que isto acontece? Porque as homenagens que cumprem apenas a liturgia do Dia 8 de Março são insuficientes e mostram o quanto precisamos avançar. Talvez, todas as homenagens do dia de hoje, e desta semana, tivessem muito mais valor e eficácia, se, nos demais dias do ano, todas as autoridades, todas as instituições, todos os segmentos sociais dedicassem parte do tempo para efetivamente combater todas as formas de violência contra as mulheres. Assim, e considerando que estamos no terceiro mês do ano, deveríamos tirar o restante dos meses de 2024 para fazer algo de concreto, visando ter em 8 de março de 2025, melhores índices sociais sobre as mulheres, e dados estatísticos que mostrassem essa evolução. Uma boa dica seria comparar os dados que temos hoje com aqueles que teremos daqui a um ano, para saber se as homenagens litúrgicas de hoje terão valido a pena. Até este momento, tudo ficou no âmbito solene. Nada de prática!! Infelizmente nada…

Quais foram as pautas que a Assembleia Legislativa de Rondônia defendeu e efetivou para reduzir a violência contra as mulheres rondonienses? Quais foram as políticas públicas implementadas em defesa da mulher em nosso estado e nos municípios? Quais foram os projetos nas câmaras municipais apresentados para oferecer maior proteção e segurança as mulheres, em cada município rondoniense? Quais foram os meios tecnológicos implantados pela Secretaria de Segurança de Rondônia para acelerar as investigações sobre os crimes cometidos contra as mulheres? Quais foram as ações práticas do judiciário estadual para apresentar as soluções e punições contra os crimes praticados em Rondônia contra as mulheres assassinadas? Quais foram as políticas públicas instituídas pelos prefeitos e prefeitas rondonienses para combater a violência contra as mulheres? Quais foram os movimentos da sociedade civil organizada para dizer um basta à violência contra as mulheres de nosso estado? Muitas outras perguntas deveriam ser feitas à sociedade, para que os dados de 2023 sejam comparados com os de hoje. Logicamente que surgirá alguém ou alguma instituição para dizer: “Não é bem assim, nós fizemos, sim!” Tudo que foi feito, nesse sentido, nos últimos três ou quatro anos, não é suficiente, já que os números de 2023 nos desmentem a todos. Os índices de violência contra a mulher somente aumentaram…

Pouco tempo atrás, uma magistrada do Tribunal de Justiça de Rondônia revelou que milhares de crianças nascidas no estado não possuem sequer os nomes dos pais na certidão de nascimento. Isto também é violência! Os números apresentados pela magistrada dizem muito e revelam o abandono a que milhares de mulheres rondonienses são submetidas. Os casos de feminicídio em Rondônia são cada ano mais alarmantes. Todas as homenagens de hoje são importantes, sim, mas deveriam servir para pensarmos que as homenagens litúrgicas, muitas vezes, ajudam a maquiar a violência sofrida pelas mulheres de Rondônia. As agressões físicas, o assédio, o abuso sexual, as agressões psicológicas, o preconceito, a discriminação e o descaso contra as mulheres, até hoje, ocupam lugar de destaque no cenário social de Rondônia. Neste fim de semana, muitos homens que organizaram homenagens em casa, nos gabinetes, nos escritórios voltarão a praticar agressões. É sobre tudo isto que devemos refletir e agir. Não dá para aceitar que Rondônia continue entre os estados que mais agridem mulheres! Até quando teremos que nos envergonhar desses números?

E a violência também ocorre de maneira institucional. O setor de educação e saúde de Rondônia, por exemplo, possui uma participação indiscutivelmente majoritária de mulheres no desempenho das atividades. Na educação, as mulheres que exercem cargos técnicos e o magistério são a imensa maioria. Na saúde, os números são parecidos. Entretanto, todas essas mulheres hoje lutam para tentar melhorar o auxílio alimentação que figura nos contracheques. O valor de 250 reais do auxílio alimentação das professoras e servidoras da saúde no estado mostra o tamanho do respeito por essas mulheres. Este valor revela uma relação flagrantemente abusiva! O Sintero, o Sinprof e o Sindsaúde estão, há meses, tentando apenas uma resposta do governo sobre o auxílio alimentação e o governo continua mudo. As três entidades sindicais são presididas por mulheres. Ainda bem que são mulheres fortes, bravas, da luta, porque não é fácil enfrentar tantos abusos institucionais e receber apenas homenagens litúrgicas…

Então, as homenagens da coluna são para todas as mulheres de Rondônia, porque não é fácil viver no estado que mais agride mulheres e que faz algumas das homenagens mais calorosas, apenas em 8 de março de cada ano. Não há razões suficientes para tantas comemorações, porque ser mulher, no Brasil, representa uma luta diária para, ao menos, continuar viva. A prática precisa ser substituída, porque a liturgia é ineficaz! Em vez das comemorações esporádicas, nosso estado deveria arregaçar as mangas e lutar, todos os dias do ano, para proteger as mulheres. Esta poderia ser a melhor homenagem… Tenho dito!!!

 

FRANCISCO XAVIER GOMES

Professor da Rede Estadual e Jornalista

Gostou? Compartilhe esta notícia!

Facebook
WhatsApp