Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: AS REPUTAÇÕES, OS JUÍZES E O NOVO TRIBUNAL…
O estado de Rondônia tem espaço garantido no topo da lista, no quesito relacionado a ter uma população com mania exacerbada de espalhar fake news e fazer julgamentos de reputações pelas redes sociais, sem que haja nenhum critério ético, jurídico, social ou científico. O problema é que, muitas vezes, grande parte da imprensa do estado entra nesse jogo e inunda os jornais de notícias que carecem de todos os fundamentos que o bom jornalismo exige, para que se faça alguma coisa minimamente coerente. Lamentavelmente Nossa Urbe Obediana não está entre as exceções e o moralismo infundado de uatizápi impera com força total. A prisão do vereador Lauro Costa Kloch, ocorrida na última terça-feira, em Cacoal, foi mais um exemplo dessa sede de julgamento às cegas e da vontade louca que vários jornalistas têm de promover os chamados “furos de jornalismo”, sem buscar as informações mínimas necessárias para fazer publicações. O vereador foi simplesmente metralhado em dezenas de jornais eletrônicos de Rondônia, redes sociais e rodas de conversas, com base em argumentos completamente fantasiosos. Um episódio lamentável de prova da desinformação…
Inicialmente, cabe esclarecer que não votei no vereador Lauro Garçom do Semáforo, como é conhecido o edil obediano, e aqui mesmo neste espaço já registrei algumas críticas sobre votos e opiniões que ele deu no plenário da Casa de Leis, em algumas ocasiões. É com a mesma serenidade e naturalidade que vou criticá-lo, todas as vezes em que houver necessidade, porque as pessoas públicas são passíveis de críticas e elogios, sim. Entretanto, neste episódio da prisão do vereador, não posso criticá-lo ou condená-lo, por razões muito simples. E quero deixar bem claro que minhas razões estão fundamentadas na longa conversa que tive com o advogado do vereador e pelo fato de acreditar que o advogado não tem motivos para inventar mentiras. Em ocasiões diferentes, a suposta vítima, garantiu que nunca foi estuprada pelo vereador. A denúncia de estupro teria sido registrada contra o homem que hoje é esposo da vítima e que agrediu Lauro Kloch, quase causando sua morte. Como a notícia e o “motivo” indicado na ordem de prisão deixaram as pessoas em profundo estado de euforia, decidi sentar com o advogado do vereador, o Dr. Pio da Silva, para conhecer os fatos. Considerando que o processo corre em segredo de justiça, conversei com outras fontes seguras, já que Dr. Pio não me passou detalhes. Essa deveria ter sido a atitude de todos os jornalistas que fizeram publicações sobre o fato, porque o tipo de acusação exige muito cuidado para produzir matérias jornalísticas…
Na realidade, é perfeitamente compreensível a conduta das pessoas que condenaram o vereador nas redes sociais, porque isso infelizmente é muito comum nos dias de hoje. Mas todos os jornalistas e jornais que assassinaram a reputação do vereador deveriam ter tido o cuidado de procurar saber dos fatos. A denúncia que consta o nome do vereador surgiu em 2013, quando ele levou 08 ou 10 facadas de um camarada em Itapuã do Oeste. Ao ser preso, o agressor declarou que tinha tentado matar Lauro Costa, porque sentiu ciúmes da namorada. A vítima foi chamada a depor, evidentemente na presença da família, e teria declarado que Lauro era amigo do irmão dela e que jamais teve qualquer tipo de relacionamento com ele. Nem mesmo um beijo! Chamada a depor pela segunda vez, após três anos do primeiro depoimento, ela teria dito, mais uma vez, que jamais teve qualquer tipo de relacionamento com o vereador. Houve, ainda, um terceiro depoimento em que ela teria contado a mesma história. Durante o depoimento, ela informou que estava grávida do seu segundo filho. E quem é o pai das duas crianças? O esposo dela. É quem é o esposo dela? O mesmo cidadão com quem ela continua casada até hoje e autor das facadas contra o vereador.
E por que o vereador foi preso, perguntam seus julgadores das redes sociais? Ele foi preso porque teve o nome citado no processo, pelo esposo da suposta vítima, e deixou de comparecer para ser ouvido. Tudo isso também consta no processo. A pergunta que os juízes de redes sociais deveriam fazer para eles mesmos é: você continuaria morando em Itapuã, sabendo que poderia encontrar, em qualquer esquina, uma pessoa que deu 10 facadas em você e poderia dar outras? O camarada que agrediu Lauro Kloch com as facadas acabou absolvido no processo, porque ele casou com a moça, tem dois filhos e vive até hoje com ela. Caso alguma pessoa dessas que condenam o vereador por “estupro” encontrar no processo alguma informação que seja indício de estupro, eu serei obrigado a pedir desculpas publicamente e me juntar à lista dos seus acusadores. Se o depoimento espontâneo da “vítima”, repetido três vezes, não vale, tenho que abandonar todos os livros de Direito Penal do país e adotar as redes sociais como novo tribunal de julgamento…
Na conversa que tive com o Dr. Pio da Silva, advogado do vereador Lauro Kloch, e profissional com quem tenho o privilégio de tirar dúvidas sobre as matérias de Direito que estudo na faculdade, perguntei a ele que medidas pretende tomar em relação aos fatos. Ele disse que está avaliando calmamente e vai adotar todas as medidas cabíveis para restabelecer a verdade e reparar os danos sofridos por seu cliente. A primeira medida adotada por ele, logicamente, foi pedir ao Tribunal de Justiça de Rondônia a revogação da prisão do vereador. Importante lembrar que Dr. Pio da Silva não pediu nenhum relaxamento de prisão, porque não é a medida cabível. Ele pediu a revogação da prisão. Caso o advogado do vereador Lauro Kloch adote todas as medidas cabíveis para reparar os danos do seu cliente, tudo indica que existe uma possibilidade muito grande de ele não precisar mais vender água no semáforo, porque os algozes do edil nadaram em rios de água de coco, nas acusações indevidas. Resta saber se terão a grandeza de usar os mesmos veículos para pedirem as necessárias desculpas, ou se esperam ansiosos pela próxima reputação que desejam assassinar, sem conhecer os fatos… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista
